13 de mar. de 2012

O ócio que enobrece o meu olhar

I
Ter casa e comida não é o bastante
Eu quero a canção
Ter roupa lavada não é importante
Eu quero a nudez
Ter mãos sempre a postos não me gratifica
Eu quero a empatia
Sorrisos e boa vontade, não quero
Prefiro os suores

Amor. Sexo. Desejo. Vontade. 
Ódio. Uso. Repulsa. Ócio.

II


A porta da casa está entreaberta. Propositalmente. Um pouco de gelo na minha bebida. E, mais uma dose no copo. Eis que eu esperava me surpreender como jamais o quisera antes. O perfume doce anunciara sua chegada. Contrastando, a linha fina de fumaça do meu cigarro se elevava.
- Me espanta a tua coragem! - Disse o forasteiro enquanto eu colocava mais bebida em meu copo.- Ser um cidadão de bem não quer dizer nada numa cidade como a nossa. - Completou.
- Aceita uma bebida? - Embalava o copo em sua direção.


E numa breve narrativa, eis que me chega aos ouvidos a ingrata expressão de desaforo:

- Sabe, essa viagem foi completamente diferente. Nesses sete dias que perambulei pelas ruas da grande cidade, percebi que o céu não é tão azul como eu achava. As pessoas são peculiares em suas ações e decisões. - Respondeu-me friamente tomando de uma só vez a medida incomum de bebida. Parecia prever essa conversa. Eis que de repente, como se ainda faltasse o último golpe, uma frase gélida e imparcial confundira meu juízo:


Boa noite! - Saiu da mesma forma que entrou. Exalava o mesmo cheiro de todos os dias.


III
E no breu de todas as manhãs, já acordo e nada de novo enobrece meu olhar. Parados estão os sonhos desde aquela noite em que me desejaste "boa noite". Só não contava que desde aquele último raiar do sol, nunca mais conseguiria ver a claridade das manhãs. Nosso amor se reduziu ao lado da cama vazia. Deixaste-me.

E o rio ainda corre. Os carros andam em velocidades oscilantes. As pálpebras trabalham incessantemente. Vai dia, vem noite. Tudo é noite. Levaste consigo as cores. O vinho deu lugar à cachaça. O sóbrio rendeu-se, qual mendigo que não tem quase nada a perder. Não desgrudo um minuto o lençol que traz impresso, teu cheiro. O que me deixa vivo é o ócio que enobrece meu olhar. Volta, e dê lugar a meus apelos. Devolva o perdão mutuamente invasivo!








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