31 de ago. de 2012

Ares de Setembro

Ora, devo-lhes dizer
Ao contrário, aqui se vê
Coisas boas ao luar... 

Que parado, nu se enfeita

A paisagem, endireita
Céu descansa feito mar

Não me venha com o verso

Ser bondoso ou perverso
Ares vão se exaurindo

A garganta fica acesa

Fica rouca, fica presa
O meu ar vai se esvaindo 

Hoje falta-me o desejo

Falta o brilho, falta o beijo
Minha gana se distrai

Amanhã será diverso

Novamente o universo
Ao mistério nos atrai

Virá deus das profundezas

Dá-me de suas riquezas
Respirar um ar tranquilo

Me conduza ao respeito

Antes mesmo que o direito
Possa vir julgar ambíguo

Minha consideração

Falta-me a respiração
Quero o mundo ajudar

Mesmo refém do umbigo

Fraco enfrento o perigo
Repartindo o mesmo ar

Baluarte

Se alegra no flagelo
Cede enquanto o elo
Desfaz alguma parte

Só quero ser amigo

Quando ao cordão, o umbigo
Me leva ao disparate

Pra defender se cala

Topa qualquer parada
Finge fragilidade

Se esconde, ora aparece

Toda mulher merece
Mais que sinceridade

Tem nas mãos um unguento

Pode a qualquer momento
Tornar-se um baluarte

Doçura desmedida

Quer mãe, mulher, menina
De Deus, sublima arte

30 de ago. de 2012

Perfil falso

Me falta saudade
E felicidade, difícil encontro de pares
Em meio a lugares, procuro olhares
E não sei sobre o nada de mim

Desisto, me falho
Em meus próprios embaralhos,
Em meus mares, desertos do ego
Que cessa a esperança, o ódio, a ganância
Entrefazem o que me é tão sutil
Detesto, manifesto
Confundo, eu infesto pela casa um cheiro de dor
Se choro eu inquiro, discuto, explicito
Momentos afloram meu penar

O sol acalma a pele, a sombra empobrece
O brilho carmim do olhar

Um verde em fumaça
O cinza ao ar, eleva
A alma em seus tons

Cênico

Não sei fingir
Prefiro nem ser
Quando em frente ao espelho
Vejo-me

A lágrima ao encontro
Reflete o traço endêmico
Anônimo, interno
Cênico

Sobre a vivência


À justiça, venda
Ao meu corpo, toque
Indecente, torpe
Ao desejo, prenda
Não me seja ingrato
À sentença, fato
Ata-me, desato
À vereda, fenda
Luz em minha noite
Não esconde o açoite
à quem merecia
Pele escura, dia
Feitiço ou magia
Lhe obscurecia
O meu desencanto
Lá de fora, canto
No interno, pranto
Finjo alegria
Céus em meu inferno
Em tom baixo, berro
Quero isonomia
Sobre a vivência
Caio na armadilha
Do calor sem vento
Dou ao tempo, tempo
Grito em calmaria

25 de ago. de 2012

Insônia


Um tom de azul, o mar
Amarelou, o sol
Meus ais não são tão meus
Meu sim deixou de ser
Eu requeri o não
Manhã passou além
Aquém, a distinção
Poder é ter a mais
A mais, eu tenho o pão
Fechou meu céu, anil
Restou a indecisão
Deus pai desceu aqui
Eu não estava, não
Entenda que sofri
Desista de ferir
Eu sou o que não quis
Pra ser o que não sou
Dormir, já acordei
Em pé, deitei em vão
Cigarro, acendi
Apaguei a visão
Para amar, dormi
Noite, acordei no chão

24 de ago. de 2012

Mar da palavra

Um tantinho de paz
Basta ao homem que faz
Do seu destino um mundo cruel
E deus do alto me diz muito mais que ousei 
Escutar ou sentir

E de uma graça qualquer ou desejo menor

Ou maior que a canção

Deus lá do alto me diz, me consola na margem

Na beira do mar
A água com sua vontade, apela, invade
E varre meu ser

Um cigarro após outro demonstra, quer louco

Ou sóbrio, um homem comum
Que descobriu na palavra a arma letal
Não, não sei entender
Quando as águas salgadas se achegam à praia
De encontro ao meu lar
E minha casa tão frágil, espera a palavra
A ordem do pai
Já não sei bem o porquê, tanta água salgada
Invade o meu ser

E o mar, é o mar

23 de ago. de 2012

Gratidão

A mão do senhor servia a escória do meu chão
E o mundo nu se emudeceu
De frente, costas e lado, revi o meu viver
Penei até a sorte me encontrar

Estrela caiu do céu feito o anjo enganador
O ego rendeu-se ao criador
Parafernálias de fé, preceitos e de moral
Rezei meu ato de contrição

Certezas não são certezas enquanto o coração
Não descobrir a via onde andar
O pai ama tanto o filho a espera de encontrar
Reciprocidade no olhar

E com tenra gratidão ofereço minha mão
Cabeça, peito e o calcanhar
Meu muito ainda é pouco, se o outro precisar
Mesmo não tendo, eu vou lhe dar








O sabor da preta

O dia acabou de nascer...
e a preta singela já tá na panela 
cozinhando feijão

Qualquer bagatela de afago na preta,
e eis que ela chora de rir

Minha mãe de fé pediu para eu dar para ela 
um colar de bijú

A cor amarela, vermelha e um pouco rosada 
estampa o vestido cru

Um corpo moreno de cor cintilante 
em volta ao fogão

Repare no cheiro que a preta introduz no tempero,
uma dominação

No meio ao feijão e panelas
a preta incomoda com o seu desvelo incomum

Mais cheira que flores, se doa em cores, 
arco-iris de luz

Do quarto à panela, a preta singela, 
mistura ao amor seu sabor







Alaúde

Amei demais
Como se isso me bastasse
Levo no corpo, impresso o desgosto
Na alma, o carimbo que chancela esse canto

Seja lá deus quem for
Em que imagem se assemelharia ao homem?

Quando tenho algo, a dor o leva de volta
E volta e meia, me acho

Coração tenha calma
Não. Na hora errada
O meu peito, parou de tocar
Quando fui eu mesmo que disse
Que me retrataria com tua face
A luz, por mais latente fosse
Um breu se acomete
E não há sequer disfarce na canção

Sou feito um alaúde em meio à sinfonia
E um bocado de tambores narram o meu dia

Lá fora, esperam por minhas palavras
Todo entendimento se reduz no interno
Pra se redimensionar quebrando o elo
E o mundo se esconde
Em cada rosto, em cada som, em cada gesto

E deus, mostra sua face
Mais que merecimento ou morte
É porque clamo







Desonesto


Correr de quem é forte
Sorrir, mesmo da morte
Eu me engano

Palavras sem sentido
Sussurros no ouvido
Eu me entrego

Cantar velhas canções
Chorar em meus rincões
Abandono

Saltar o obstáculo
Sorrir, mesmo estático
Enriqueço

Cuspir no mesmo prato
Corresponder ao fato
Empobreço

Usar o corpo aberto
Fechado em manifesto
Eu te ganho

Não ter nenhum problema
Sarar os meus edemas
Mentalizo

Subir quando estou fraco
Até chegar ao marco
Eu duvido

O dinheiro me falta
A culpa interna mata
Quando omito

E não vou para casa
Memória fica rasa
Eu confesso

Honrar a distinção
Matar, ferir o irmão
Desonesto

Matinal

Amanheceu em meio a cafés e cigarrosE o meu amor ainda dorme

Então, logo escrevi o manifesto
Pois a alma está cansada dos passos
Do corpo pela casa vazia
No estômago um vão em azia
E o pensamento vagando

E o meu amor, dorme











Sonhos

Quando à noite eu me entorpeço
Sonhos vem, amadurecem
Na manhã eu enlouqueço
Sonhos vão, obscurecem

A mente rasa rasga a manta
E a canção requer em falso a nota grave
E desafina enquanto o aplauso
Esconde o erro, sorri sem graça
Então a fé esconde o brilho
Só para não ser questionada na velhice

Na juventude o meu sonho se inquieta
E na infância os pesadelos eram magia
Da inocência tão comum aos animais
Hoje em reais tons de razão, embora eu finja


Feito

Sou de fogo
Feito água

Sou de ferro
Feito lata

Sou de chuva
Feito lama

Sou de terra
Feito pó

Sou de vento
Feito brisa

Sou de arma
Feito crime

Sou de rocha
Feito pedra

Sou de sono
Feito sonho

Sou de branco
Feito preto

Sou de dia
Feito noite

Sou de arte
Feito raro




21 de ago. de 2012

Altar


O meu coração de lata bateu feito um afoxé
Rodava ao centro meu orixá

Saudade vem e maltrata, confunde o meu viés
Vou resistindo e combato o mal

Adentro na mata escura e o corpo se desfaz
A natureza é parte de mim

Do alto ou da profundeza, a força é vital
O unguento vem e desata os nós

Aquém da minha vontade, a verdade é atroz
Liberta a alma da perseguição

O homem é fraco e não é capaz de amar em paz
Se falta o pai o filho vai chorar

Bença minha mãe de fé, fiz o laço de Iansã
A tempestade vai restaurar

E o brilho se acendeu no meio do coração
Enquanto se preparava o altar

Trecho de nós

Foram-se todos. Restou-nos um trecho de nós. 

E a cama é o campo onde se dispensam nossos suores. Bem quisera que fôssemos além de nós mesmos. Isso fizemos. Mas, quando a aurora enfim desponta no horizonte, os ventos que movem as nossas ideias ficam atrás da porta fechada. E temos que dar um jeito pra dor. A solidariedade fica no gesto, afago. Como ouro, o fogo vem ao encontro. 

Tem um som tocando no rádio. Não sei distinguir a doce melodia que se mescla ao meu canto interno. Sei que aqui dentro, a influência de fora desponta. Nossa vida quer mais uma. Nossa ideologia precisa de novos argumentos. Nossa insistência tem de encontrar ouvidos. 

E vou seguindo o curso da mina d'água. Estou em um de seus trechos. Do outro lado, está o outro lado de mim. E vice-versa.

Corredor


Da cozinha pra sala
Já perdi as contas
Ando feito um cão sem dono
Finjo, esqueço o abandono
Que o sorriso me aquistara

Estará no corredor a saída
Na porta da frente ou dos fundos
Só desisti de sair
Quero cama, sofá, fogão
Nem janelas abertas
Nem passado apagado

Corro, fujo, ando dentro de mim
E a estrada precisa de reparos
Aparo as arestas do meu ego
Com essas, faço um prato na cozinha
Pra comer na sala
Em frente a televisão

19 de ago. de 2012

Falácias de domingo

"À memória, uma pitada de saudade"

"Por traz da ideia se esconde a dúvida"

"O requinte de ingênua crueldade, macula o crime"

"Duvido até o dia em que me convençam"

"Viver é um beco sem saída"

"Quando arrisco o meu mundo se divide"

"Amar. Outro risco."

"Onde abundou o dinheiro, superabundou a ganância"

"Espelho espelho meu!
 O que será de Julieta sem Romeu?"

"Na inocência de um cão, repenso meus conceitos"

"Tanto disfarce banaliza o espírito"

"A vaidade é necessária e contingente"

"Meus ais só tem sentido sem ti"

"A Chuva manda o recado pela boca do Trovão"

"Para a estreia da vida não houve ensaios"

"Sou negro. Existo humano"

"Haverei memória noutra vida?"








Revolução

E a revolução, quem inventou?

A única insurreição que o homem se dispusera em primeira mão, foi o fato de seu nascimento. O feto, outrora refém do útero, não esconde a revolta de seu estado, rompendo, através da força, a condição primária. Existir é a primeira grande revolução do homem. Agora, restou-lhe a busca de estabelecer-se. Aí, entramos no campo cultural da essência. E outras revoluções, o homem tem de enfrentar. Agora, não só consigo. A ruptura de si em direção ao outro, sugere a segunda grande revolução. E vivemos entre essas  direções, uma sobrepondo-se à outra. E vice-versa. Nunca existir me custou tanto. E não me é possível, sem a ajuda alheia. 

De volta às falácias

"Para além dos muros fica o desconhecido"

"Moral a mais, verdade a menos"

"O amor supera a generalidade"

"Chorar me faz mais humano"

"Ideologia: tô vivendo uma"

"Além da morte, aquém de Deus"

"Onde está o outro quando só me resta o umbigo?"

"Exijo mais de mim quando me falta o outro"

"De existência em existência, Deus tem a sua vez"

"Padeço. Mas não me entrego"

"Ao final, resta-me um cigarro"

"Amor e amizade não são concorrentes"

"Discernimento. A arma da ideia"

"A morte deixa acesa a saudade"





18 de ago. de 2012

Plantação

Aguardo o café crescer, a cana doar seu mel
E o cintilante algodão brilhar

Em meio a plantação fica um homem de chapéu
A proteção, solta pelo ar

Manhã ergo minha prece, os olhos miram o céu
Que o pai faça-nos frutificar

Nanã manda seu recado pela boca de Xangô
Na tarde escura eu vou chegar

Calejaram ao sol do dia pés e mãos
Até a sola e o calcanhar









Outro fraco

A quem interessaria o dia de minha morte?
A que sorte me entrego?

De antemão, as crianças ainda continuam a correr, a brincar.
As entidades clamam ao povo retidão em seus caminhos.
A mim, resta a dúvida. Restam o fogo e a água.

Meu coração não entende a partida. E se divide em vários.
Pelos locais, alguns pedaços são levados espaço afora.
Fora do entendimento. Fora da coerência.

Falta-me o sentido último.

E o medo do além não me faz menos crente.
Adiaram o momento oportuno. Antecipam quando convém.
Nada disso comove o corpo que prefere o calor da respiração.
Aos mais fortes, é dada a força de subtraírem a si mesmos.

Mas o mundo permanece fraco.
 E o que seria do fraco se outro não lhe existisse?



17 de ago. de 2012

Outras falácias

"Sorria o tempo inteiro aquele triste menino..."

"Maria! Te empresto meu manto!"

"Quem dentre vós escolheu pela vida?"

"Um sentido pra vida. Privilégio de poucos."

"Titãneando: Pão para quem tem fome. De quê?"

"Parti meu coração em dois. Em três. Em quatro..."

"Olhos nos olhos. O que eu faço agora?"

"Muda a cultura. Muda o discernimento. O Juízo. A norma. O preceito."

"Todo dia sacrifico meu sorriso" 

"O choro sem sentido faz mal à alma"

"Deus é de fora o que de dentro se espera"

Falaceando II

"Quando consigo entender, não sei explicar"

"Troque-se. Antes que se acabe o dia"

"Entre o tudo e o nada resta o homem"

"Cada verdade no seu galho"

"Onde emana a soberba, se esconde a luxúria"

"Calos nos fazem ver o sofrimento dos dedos"

"Mais de mim, menos de nós"

"De longe, inconsistência. De perto, exatidão"

"Uma aspas pode provocar uma guerra"

"Seguindo meu instinto, encontro-me com a verdade"

"Se foram todos. Restou-me a tatuagem de outrora"

"Espero amar. Desejo ser amado"

"Interagindo, me excluo"

"De fetiche em fetiche, a alma procura a divindade"

"Meu chão se abriu ontem. Hoje, foi o céu"

16 de ago. de 2012

Utopias

A esperança é utopia da espera
A saudade é a utopia ao contrário
Da tristeza, o abandono
Da riqueza é o salário
Do cansaço, o sono

A felicidade é a utopia do homem

Da bonança, a tempestade
Saciedade, a fome
Da incerteza, a verdade

Do silêncio, a omissão

De ter cuidado, o afã
Do dia-a-dia, o pão
Do sol nascer, o amanhã

15 de ago. de 2012

Falaceando

"Menosprezo a divindade quando não acerta a alma"

"A felicidade se limita à disposição do corpo, assim como a tristeza"

"O nome imprime ao homem uma entidade"

"De pedestal em pedestal anda meu ego"

"Quando a luz se apaga, os olhos se fecham"

"Para o infeliz - solidariedade"

"De solidão em solidão, anda minha tristeza"

"Unidos, venceremos à força!"

"Quando acerto, engano alguém"

"Amo até onde posso sentir"

"Do lado de fora, me veem dentro"

"Meu horizonte se enquadrou numa curva"

"Vários de mim fazem de mim, eu mesmo"

Ramalhe de prumos

Lembra daquele dia, do ramalhete?
Deixei entre as flores, um bilhete:

"Amar é como arte
São dois lados de uma parte
Que se unem feito laço
Feito rima, feito abraço"

Me desconcertei agora
Sem meu prumo, sem demora
Para lhe rasgar o medo

Do ciúme, do desejo
Não há crime, não há presa
Circunstância ou certeza

Que se afronte ao sentimento
Fica a lua, passa o tempo
Resta ao peito a conduta

Nem a santa ou a puta
Tem a culpa derradeira
A verdade vem certeira

Nos acometer às pressas
Sem vestido, sem coberta
Vou lhe merecer agora

Sem meu prumo, sem demora




14 de ago. de 2012

Exploração

Minha visão ficou cinza
O azar não me finda 
O verso, a letra, o som

Lá bem de cima os ares
Fumaça, olhares
Maldades brotavam do bom

Exploração desumana
Corrompe, engana
Afasta o sábio do dom

Sombras distraem o juízo
Disfarçam sorrisos
Abaixo ou acima do tom









13 de ago. de 2012

Vou-me antes do luar

Quero sobrar feito vinho na botelha
Feito proteção, a telha
Que protege nosso lar

Para não desajeitar nosso futuro
Me escondo dentro o muro
Que separa o nosso olhar

Não me incomodaria o teu jeito
Só me resta o respeito
Bem ao meio fica o mar

Meu coração não resiste à maldade
À renúncia, falsidade
À maneira de falar

E à fiel esperança eu me mando
Quer com medo, abandono
Vou-me antes do luar










12 de ago. de 2012

Demônios de mim

A inocência se mancha
Na ordem, lembrança
De vultos, de insensatez

Minha ilusão não se cala
Demora a fala
Sussurros, um verso talvez

Ligeiramente me esqueço
do gosto, do jeito
Memórias se vão pelo ar

Várias frações de mim mesmo
Vontades, desejos
Tropeços antes de acertar

Entreaberto os ouvidos
Os olhos, sorriso
Eu desço ao interno do fim

Para entender o humano
Reconstruo o plano
Enfrento os demônios de mim








Cinzeiros

Quero ficar na tua pele feito chama
Feito brisa, feito lama
E adocicar meias verdades
Só um beijo, outra maldade
Uns cigarros e isqueiros


Espalhei por toda casa

Um feitiço
Uma força

Uns cinzeiros

Sou de barro
Sou de louça
Sou de joia
Sou de vidro
Que me quebro
Não resisto
sou de ferro

Me iludo
Com fumaça
Sobrevivo
Entre cinzas
Entre vidas
Entre apago's
Meu cigarro
Tá no fim
Outro começa

Se insinua
Se encerra
À medida
Do cinzeiro
Que se doa
Se empresta
Ou na culpa
Dolo
Ou pressa
Ao meu vício
Se entrega
Fim de noite
Fim de festa
Derradeira chama
Acaba
Quando só ao fim
Me resta
Um cigarro.

11 de ago. de 2012

Indagação

O que designa a pureza?
Seria a destreza ingênua de ver-se dentro 
Ou a coerência duvidosa que moraliza meu peito?

Só perdoo quando temo o abandono
Me arrependo às vezes
E não perco o costume, de quando em vez,
Ser eu mesmo
E maculo a ordem e a vontade
Desejo ou verdade
Que coíbem o meu instinto 

E a natureza me leva aos mais altos penhascos
Onde o ar fica raro
A visão fica turva
Na amplitude se esconde a vertigem

O medo, a impotência e a coragem, também estão lá

Vou me alienando com a existência
Na insistência de ser amado
No porão da minha casa se ocultam segredos
No interior da minha voz, a certeza se indaga

E o estado de emergência me empurra 
Ao fundo falso da essência
Na impressão duvidosa do eterno
Ao nada

Me eleva o espírito 
Que não passa da cabeça confusa
Da ideia indecisa
Do amor perdido
Da fé esquecida
Mesmo que banal me seja viver em meus próprios sentidos
Impressões e juízos da realidade presente

A morte é como o passado, que não volta
É feito poeira que se move
Igual a graça primeira, perdida
A força vindoura, finita

Vou matando meus passados
Resistindo aos acasos
Encontrando-me
Perdendo-me

E, me custa estar
Quando existo.















Visão

O céu escureceu seu olharÀ luz, e desvendou meu viés
Depois, não entendi o porquê
Da cruz, merecimento, sofrer
Então, a fome veio, encontrou
O pão, a vista cega enxergou
A luz que brilha ao anoitecer

9 de ago. de 2012

Contradição


Faça-se a luz dentro de mim
D'onde pairam canto e devoção
Não serei tão cru feito o respeito
Nem tão doce-amargo impropério
Para que a luz recrie a chama
E na derradeira espera eu ame

Sem saber, o mundo é passageiro
Tanta humilhação e vou-me embora
Para disfarçar eu sou eu mesmo
E desencanada é a realidade

Destemido o amigo é inimigo
A verdade não revela o feito
Minha distinção não baixa a guarda
E o meu pedido está a postos

Eu ainda tenho esperança
Nada tem poder, ódio ou ganância
Que me deixe só com meu lamento
Quando tudo acaba, ainda tento
Quando o choro chega, eu sorrio

8 de ago. de 2012

Riso frouxo

Quando o riso frouxo se aproxima
A migalha ao chão, manjar se torna
O meu coração bate impreciso
Todo conteúdo vira forma

Quando o juízo é abalado
Abrem-se os olhos da justiça
Mas, se lá no peito resta mágoa
Fico transparente feito água
Engano a tristeza com malícia

Do amor - a reciprocidade
Do deserto - a introspecção
Da loucura - a sinceridade
Para o devaneio - a verdade
Para a certeza - indecisão

Pelo espelho vejo o meu rosto
Que hoje decidiu-se pelo oposto
O lado de dentro, fica fora
De fora, o dentro é mais perfeito
Quando a verdade enfim, aflora
Muda o curso incerto da história
Do que resta, espera-se o respeito





7 de ago. de 2012

Breu das condutas

Caia o teu desejo sobre mim
Do lado de fora a ilusão
Que os sonhos tenham sua vez
Da janela: luz com nitidez
Deixem-nos com a nossa conduta

O corpo desata-se em harmonia
E lá no oculto da verdade
Fico em devaneios com a vaidade
Resta-me ao peito: Mea culpa!

Sinto esse vazio quando choro
É que na fraqueza eu me exponho
Só assim o riso tem sentido
Vejo-me além do próprio umbigo
Caia sobre mim a liberdade

Da janela: luz com nitidez
Entra, arranca a máscara do olhar
E na destreza certeira que me leva ao gozo
Na glória do dom, do tom, do novo
Reatemos o cordão da elegia
Festa, ideia ou fantasia
Para encontrarmo-nos no breu das condutas
Onde a verdade fica exposta
Na frente, atrás, nos pés, nas costas
E o encanto enfim surja com espanto
Vamos! Tire a máscara, erga o manto
Resta-nos em pelo, a pele nua










Sorriso

Deixe de lado o sorriso que evoca a maldade incolorEntão, faça assim: escolha o outro lado da dor
Pra sorrir
Basta um pouquinho de emoção, sei lá
Uma pitada de intromissão
Largar o pé da distinção
Deixar o fraco coração
Bater
Às frouxas tosses do pulmão
Bate bem quando o coração
Se intromete na respiração
E a maldade faz voar

4 de ago. de 2012

Dom

Glórias!
À supremacia do dom
Que superou a graça!

Onde andará a culpa esta manhã?

A maçã foi traída 
E no nominalismo da ideia
Imprimiu-se ao fruto personalidade 
E vulnerabilidade ao homem

Caio. 
Não sei como levantar-me quando a graça resolve ir.
Me sobra o dom

E na elegia da poesia
Vou expressando o perdão
A vontade, a escolha

Vou procurando chão quando a dor se esquece de partir
Vou encontrando sentido na palavra

Na maior parte do tempo
Vou administrando a loucura cotidiana
Que nem à noite descansa

E como prerrogativa, me sobra o dom
Que perambula pela testa suada
Pela incoerência dos versos
Pela inconsistência do espírito
Energia do desejo

A liberdade humana se encontra no espírito
Não na condição de pureza
E sim, no tempero da mácula
Escondido no dom 

1 de ago. de 2012

Quando a verdade persuadiu a esperança

Hoje, fiquei a um passo da verdade
Rapidamente como o sol, ela sumiu no horizonte dos meus pensamentos
Basta de eufemismos, quando nada suaviza meu poente
Não posso esperar que a razão dê luz às minhas insanidades
Vivo de desejos e esperanças
Meu coração se perde a cada dia na lembrança de um ontem
E hoje já é o amanhã de outrora
O que no futuro posso esperar?

Espero.
Desejo.

E meu corpo, fruto da escolha de outrem,
Vai morrendo aos poucos na insistência do vir-a-ser
E a existência trai o homem
Corrompe a alma fraca
Forte, crente, santa, ingrata

Hoje, a verdade persuadiu a esperança
Em meus olhos, a lágrima brotou
Do remorso da culpa primeira
Que me trouxe a teus pés nesse ocaso
Não me julgue pelo excesso
Por não ser como outro qualquer
É que não me coube a escolha
Nem é caso aqui, mencioná-la
Eu traio a cruz da cultura
Quer crença, ciência ou preceito
Vou enfim procurar a verdade
Escondida lá dentro do peito

E me corrompo.
Quando a cruz fica pesada
Nem a droga endireita meu sorriso
Não me julgue segundo a tua esperança
Tua fé, pouca ou tanta
É que o certo vira errado
E vira certo e me confunde
Não defendo isonomia de ideias
Nem questiono a fé alheia com maldade
Cada um que se corrompa com seus deuses
E quando a hora derradeira chegar ao homem
Que ele possa encontrar-se com a verdade















Botão

E no momento oportuno, entre espinhos, o botão há de se abrir
Com ou sem risos no mundo, o coração expõe seu porvir
Na natureza dispersa, o homem reinventa a condição
De ser, de coexistência; na fé ou ciência se conduz
Tem que durar até o instante, antes, doravante - o existir
No drama ou na comédia os espinhos protegem o botão

protesto

  num tempo onde as tragédias são celebradas alguns tantos te querem triste, derrotado levante, sorria para o espelho, para a vida o teu sor...