30 de set. de 2012

Bora se ver

Cabeça volta e meia em tormento
Não vejo bem
Ficou refém
Meu pensamento ao teu pensamento

Cabeça segue a direção do vento
Não sei dizer
Custa entender
Porque deixar o tempo dar um tempo

Ah...
Eu quero estar
Não sei perder
Bora acertar
Bora se ver
Deixar que os ares tragam-nos alento

E divagando em descontentamento
Vou respirar
Redescobrir
O homem que se perdeu aqui dentro

Ah...
Do que chorar
Se arrepender
Bora se amar
Se envolver
Deixar a mágoa para o esquecimento

Enseada e meias verdades

"Verdade e meia,pouco importa...

Um pedaço de mim, incrimina

E metade de mim se corrompe
Eu insisto em amar-te e me esqueço
Que em minha enseada não há porto"

Falácias III


"A inverdade deixa a vaidade à flor da pele"

"Ao final da primeira taça de vinho, uma dose de humor se aproxima"

"A culpa deixa triste o justo"

"A vigília incomoda a quem dorme"

"Não há preço que se pague, nem desejo que se cumpra, quando resta ao fim, a culpa"

"Basta um cigarro pra esquecer que te amo"

"O sintético exclui o que o natural integra"

"O rosto é o livro, na boca as palavras, nos olhos os juízos"

"Tarde demais. Tente amanhã."

"Quem te viu talvez nunca mais te veja"

"Pare. Olhe. Escute... Onde está o trem?"

"Mais sabedoria onde há menos vontade"

"O fermento aumenta a fome do mercenário"

"Te amo até que a sorte nos separe"

"Alegrias vividas, tristezas sentidas"

"Mais sonha quem passa o tempo dormindo"

"Não há fama maior que contrato"

"Fama na trama. Anonimato na cama"

"Não há lombra maior que um sonho"

"A bebida incomoda quando o copo resta ao lado"

Feito alento

Eu vou,
Desabotoar minha dor
Encontrar, por aí, qualquer flor
Reconquistar sem dó o amor
Refazer a face, o humor
Destruir qualquer dissabor
Colorir o que não tem cor

Vou,

E depois não vou esquecer
Mais amor melhora o prazer
Deixa a alma enfim se envolver
O meu jeito
De falar, não sei entender
O sublime encontro do ser
E às vezes desmerecer
O teu toque

Eu vou,

Desabotoar minha dor
Encontrar, por aí, qualquer flor
E teu cheiro
Me desmonta feito abraço
Sem a mágoa ou desembaraço
De um tempo
Onde hoje já se fez ontem
Não há males que desapontem
Igual vento
Por mais forte, já não abala
E a flor seu perfume exala
Feito alento

27 de set. de 2012

Rio ou choro

O sonho é feito pássaro aprisionado 
Feito chão batido, isola a chuva

Enquanto sonho
Rio 
Ou choro

Depende da gaiola
Das asas
Da intensidade
Da chuva
Do concreto
Do chão

À beira do verso

De verdade em verdade, me engano
Onde não quero estar, me hospedo
Quando é para aprender, ignoro
Na falta ou perda qualquer, me encontro

Na instabilidade do sonho, acredito
Na saciedade do homem, espero
No combate sem eira, eu deserto
E à beira do verso, aconteço

Floresceu na cabeça, um presságio
Quando desconfiado, eu entendo
Uma parte de mim, hoje entrego
Pois o céu se deixou, entreaberto

Numa luz qualquer, me assombro
E na sombra da lua, me deito
Na presença de deus, me escondo
No calor de tua pele, me aqueço






23 de set. de 2012

Interação


Quero restar feito afago em teu colo
E recomeçando, imploro
Um pedaço de atenção

Minha intenção acompanha o desejo
Em tua pele um cortejo
São meus dedos, pés e mãos

O toque quer do corpo a verdade
Quer o zelo, sinceridade
Quer resposta, interação

7 de setembro

O que seria do amor
Uma medida de medo
Uma maneira de dor
Um vulto, um devaneio
Uma mensagem, um cheiro
Que percorrendo, invade
Desejo e necessidade
Alma se une ao corpo
...

Pra aliar gosto ao gosto
Sobrevoando no meio
Azul que brilha no espelho
Não encontrei quem inteiro
Se desmanchou por desejo
De um lado azul a beleza
Do outro extrema pobreza
Para invadir meu destino
Relativizo o juízo
Vou conquistar passo-a-passo
Um canto, qualquer espaço
Que me distraia entre nuvem
Droga cabal deixa impune
A cometer um delito
Sou usuário do grito
No jogo espero na sorte
Independência ou morte?


22 de set. de 2012

Primavera

Acabou junto
Vontade e inspiração
Água e pureza, resolveram sair
De resto, a canção e a fé
Um maço de cigarro
Umas doses de café, pra aliviar 

Primavera chegou

Trazendo chuva e remendo
No coração que bate ainda
No contratempo da cidade
Nua e fria

Meu choro vale um rio


Prefiro encostar meu riso em teu rosto
Não descobrir o que me vale
E me prostrar a teus pés
Sem fantasia ou desencanto
Sem atrevimento
Fingindo nada saber
E que o desejo possa ter
Sua vez

Quimeras

"Fora fica o desencanto
Dentro fica a utopia
Nas quimeras do passado
Construímos o futuro
Seja noite ou seja dia"

Talking Heads - Wild Wild Life

Filosofia de um louco qualquer


Para escolher, imito
Resolver, delibero
Consumir, me entrego
Dividir, sou eu mesmo

Para auxiliar, eu cobro
Comprar, empresto
Falar, me ausento
Com desdém, enalteço
Amando, envelheço
Morrendo me invento

Rio sem água

No silêncio da noite
Confundo meu dia
Com qualquer açoite
Qualquer agonia

Não tenho saudade
Tampouco amizade
De quem poupa a alma
Prefiro a pobreza
Que a mágoa e riqueza
De um rio sem água

Outras Falácias

"Reina o silêncio que vela a verdade escondida no íntimo"

"Na periferia do meu pensamento mora a perversão"

"Nos versos que invento, separo o que de mim não tenho pra dar o que de mim sobra"

"Seja você quem for, não traia o seu coração"

"Terra: o elã que une os seres que aqui habitam ao seu umbigo, materno"

"Rumo ao céu vejo o espelho azulado que esconde o segredo só revelado aos astronautas"

"Consumo, demasiado humano"

"Minha espiritualidade resvalou-se no tempo"

"Não importa se me falta caráter, basta amor no coração"

"Somos o que comemos. Portanto, o que ingerimos, digerimos, expelimos"

Onde se mata por amor, o respeito passou longe"

20 de set. de 2012

Migalhas

No lugar da discórdia, a indiferença
No lugar da tristeza, a decisão
Antes ser o que é, não o que pensam
Faça tudo e não traia o coração

À moral cabe a desconfiança
Liberdade ao deus da religião
Quando sobra desejo, ansiedade
Onde falta a vontade, divisão

Tenho pouco e não me falta nada

Migalhas espalhadas pelo chão
A palavra é a força da espada
Em seus gumes a fé é aceitação

Não entendo o incognoscível

Mereço bem mais que a redenção
Cada escolha humana, perecível
Liberdade à cabeça e ao coração

Vou fazer a vontade alheia

Pra sentir-me aceito como irmão
Feito droga que ilude, que estonteia
Na verdade, quem divide o próprio pão?

E migalhas caem fartas no chão morno 

Águas descem cristalinas, mas impuras
Entre o quente e o frio, firme escolho
Ir além da sensação que me censura

19 de set. de 2012

Expressão

"No espelho, um vulto
No reflexo, um gesto
Em cada gesto, empresto
O que de mim, não tenho"

Papel do medo

Minha verdade me assusta.
Quando eu sou eu mesmo, resisto em não sê-lo
Quando à margem, as águas transbordam
Não sei lidar com tamanha força

E na incoerência do meu verso
Vou subordinando a existência
Aos caprichos do meu riso

Não encontro culpados
E a verdade é quem me conduz ao erro
Relativizo a realidade
E afinal, qual o papel do medo?

Vento ateu

O livro abriu-se em frente a porta
E o vento ateu o foleava intolerante
Como arado, espalhava pelo campo
Grãos avulsos deixados pelos pássaros

Logo a porta fechou-se calando a cena
E as palavras ergueram-se na folha
Aquela página não por acaso estava a postos
Pra que se entenda o que não ousou dizer a porta

Ser-Prático

E quem resistiria,

A sabedoria - impávida

Menos de uma parte - átomo
Invade o céu - ilógico
Sentido ambíguo - trágico
A mente trabalha - sórdida 
Minha ansiedade - mórbida
Faz de mim um ser - prático


17 de set. de 2012

Percepção

Tanta, tanta ansiedade
Bem-me-quer o mal-querendo
Perambulo no breu da cidade
Presto culto ao deus, ao demo

Foge a alma de si mesmo

Quando falta a verdade
Boca espera pelo beijo

E o desejo quer vaidade

Não me venha com certeza
Tenho a luz da natureza
Que me traz felicidade

Ponteando a viola

Um verso vem à memória
Subestimo o desespero
Frouxo fica o desatino
Pelas doze bate o sino
Que não trai a esperança
Fé brotara na infância
Na velhice, o invisível

Adoremos um senhor

Que nos dá alem da dor
Um banquete sempre a postos
Vivendo em comunhão
Na partilha, divisão
Ao meu pai eu rendo votos

E assim sigo adiante

Volta e meia, um levante
Entre o fora e o dentro
Que no dentro mora o medo
E de fora eu revejo
Dentro fica a verdade
A mentira, a saudade
Que de fora não percebo

Ares de setembro

Para alcançar a beira da janela
E ver de longe a sombra da saudade
Basta faltar um trecho de afeto
Qualquer sentido brota na paisagem

Tons amarelos tomam o céu de brilho
E o sol vermelho some no horizonte
Minha parcela de amor degela 
Na nuvem escura vai se ocultando

Vou respirando ares de setembro

E arbitrário salto da moldura
Um tempo novo abre-se pequeno
A minha fome engole o mundo inteiro
Pra vomitar amargo o dia claro

14 de set. de 2012

Mato seco

No acalanto de teu cheiro encontro abrigo
E os poros áureos de um susto, um arrepio
Como o cerrado em tarde inóspita de agosto
Ou caatinga que já esqueceu o que é brisa
O teu calor é como sombra a céu aberto
E o teu cheiro adentra calmo em minhas narinas
E de repente o fogo acende o corpo insano
Espalha o vento a chama rumo à cidade
Na confusão, a pele esconde-se no ato
E não resiste às labaredas o mato seco

13 de set. de 2012

A quem se destina a clemência

Me estenda um tapete escuro 
Que esconda dos meus pés qualquer vestígio
Me deixaram à própria sorte do futuro
Não entendo os rumos tortos e ambíguos 
Tua mão estranhamente acaricia
A beleza que se preza a vossa arte
A bebida outrora, nos entorpecia
Hoje busco o que me caiba em minha parte

Acima, 
Fica o muro entre o sol e a lua
Entre o cinismo e a cultura

E ante mim,
Uma barreira leva-me à tua presença nua
E um pano branco não oculta minha loucura

Vem,
Quero um copo aos três dedos de aguardente
Que o inverno quer mostrar sua imponência
Sou do mundo, sou qualquer sobrevivente
Afinal, a quem se destina a clemência?

Pra entender a busca infame de minha luta
Deus ou demo mandam o mesmo recado
Quer na graça ou no mais sórdido pecado
Quem de nós haverá tamanha culpa?



7 de set. de 2012

Flor do meu desejo


Como favo de mel entre teus cachos
A uva mais genuína dos meus galhos
Entreaberto, os olhos erram o alvo
E miram justo tuas mãos em tato ao rosto

Deixo-me sem rumo que me leve ao teu espaço
Ao teu lado de dentro, ao teu colo
E com foro íntimo, degrau a degrau ouço teu ar
A porta da frente parece fechada, encostada
Daqui te vejo passar enquanto ouço
Teu passeado que se aproxima ao meu soluço

Espero atento tua imagem em meu espelho
Entorpecido frente ao cálice de vinho
Esqueço o mundo e gravo a tua passagem
Quero que o brilho intensifique meus neurônios
E da pele ingênua nasça a flor do meu desejo

O amor

Amaria sem razão, até sem medo
Espero que não se limite algum desejo
E o peito espera dos ares, alento
Da vida, mais um tempo

Se não me falha a memória

Ainda ontem, ouvi a história
De um andarilho, aos topos bêbado:

Quantas mulheres me amariam

Se não soubessem meus segredos
Levo no corpo a chaga impressa
Na alma o preço que tem pressa
Julgar quem presta ou não presta
De fato, o que de mim, me resta?
Enfrento a mágoa e o abandono!



E desde aí, meio sem jeito
Eu descobri que amar sem medo
É para alguns filosofia
Amor é dom ou brota ao peito
Igual semente, algum conceito
Alguém aí, responderia?

Por isso, assim

Com todo o jeito
E mesmo nu, perco o direito
De ausentar-me em minha sorte
Antes de amar ou ser amado
O homem quer ser respeitado
Deseja vida mais que a morte

3 de set. de 2012


Onde andará o valor nesses instantes?
E meu verso, por onde anda?
Cada dia tento ser mais humano e me enveredo
No pano falso que divide a tênue face do inimigo
Lado que fico de vez em quando
E a sorte traz mais sentido que a razão
Quando o horizonte desmente o sorriso ingênuo
Quando a flecha acerta cega o alvo incerto
E minhas certezas deixam de ser, embora existam

2 de set. de 2012

Dizeres...


Quando eu quero a revolta
Enfrento um beijo
Quando em frente ao beijo
Eu quero o chão
No calor da vontade, encontro a falta
Minha mundanidade, indecisão
Tanto em pé de igualdade
Ou do meu drama
Rumo à parede, a televisão
Mais valor tem o ator que o personagem
Confundiu nossa pena, submissão

O que é o homem
Eu não sei talhar o tronco
Virá deus das alturas
Ou restará com seus anjos
Me faltando o respeito
Eu não vejo direito
Nem do que são capazes
Estão secos, os ares
Hoje, ergo altares
À quem pague o preço
Já lhe dou o endereço
Ou façamos amizade
Muito embora, a maldade
Do outro, me afaste.

1 de set. de 2012

Um poema

Na confusão de meus fonemas
Deixo o quase virar quando
Lá por debaixo dos panos
Cada um compõe um engano
Ou verdade de um poema

Há quem veja com carinho
Cada verso é como um sino
A tocar, adentra os muros
Outros, coração de pedra
Lá de dentro, mora a fera
Deixa o peito inseguro

E o desejo, onde está
Na poesia

Expressão de ser, estar
Na poesia

protesto

  num tempo onde as tragédias são celebradas alguns tantos te querem triste, derrotado levante, sorria para o espelho, para a vida o teu sor...