15 de nov. de 2021

protesto

 num tempo onde as tragédias são celebradas

alguns tantos te querem triste, derrotado

levante,

sorria para o espelho, para a vida

o teu sorriso será o teu protesto....

21 de set. de 2020

barraco

partiu-me
em três, quatro pedaços
fez da minha moradia
seu barraco
me aniquilou...

tenho fome
e não tem nada no prato
de bandeja, me dei
ficou um rastro
de saudade
e
de
solidão



12 de set. de 2020

valor

num pedaço de carne da vitrine transparente, 
a ilusão perde a cor
todo o significado do objeto
é desumano
uma ideia
um engano
do tamanho da ordem e do progresso
que de ciência, não tem nada
e nada
em marés absurdas embaladas pela falta
e pelo desejo sem rumo, sem medo,
escondido
é puro devaneio impostor 
sou teu dinheiro
meu amor
uma herança maldita que ameaça o teu valor singelo










10 de set. de 2020

pedras no caminho

de repente pedras
no caminho
e quem será
que ali
as colocou
foi um vento forte do destino
ou uma meia volta
que voltou?
nada demais
quando eu não sei qual é a tua
nas mãos te tenho além
na mente, nua
e desse jeito eu entendo a tua falta
o meu desejo mais sutil por ti é nada
o que vou fazer pelo teu amor
o que só você tem a supor

as mãos do inocente

e o que farão
as mãos do inocente
a decifrar a solidão
depois do parto
quando num susto
lhe arrancam da vaidade
e agora
enfrenta o absurdo
da saudade
que
não tem escolha
o abandono
nem mesmo
a
felicidade
o seu sonho
é o seu caminho...

9 de set. de 2020

vela

para cada abandono, um desapego

tiro a roupa velha, visto uma nova

tomo um banho de folha, ergo a testa 

mais ou menos não faz a minha história 

sou mais eu que nem mesmo eu sabia 

no meu corpo quem vira faz a festa
 
que a doença tem cura, é promessa 

não há mal que me aparte do meu guia

bora, chega de mágoa, de querela

juntos somos a mais pura energia

que não tem nem feitiço, nem magia

que ofusque ou apague a minha vela





7 de set. de 2020

Olhares

 

Parti. Dos olhares comuns julgando o meu corte de cabelo. Parti.

Não imaginava que o envolvimento com as drogas fosse um envolvimento com pessoas. Polícia e poder de polícia por todos os lados e, num dos lados, eu. Escondido.

Só dava pra levar aquilo a sério na brincadeira.

Eles eram um caderno brochura, eu um espiral. Dobrei a página lentamente e quando dei por mim, corria por uns duzentos metros distante daquela cena.

- tem horas?

- oito e meia – respondeu-me sem muita pressa um senhor negro de chapéu. Eu (risos) quase correndo.

Todos me olhavam. Eu não os via; a moça da padaria, os carros que iam e vinham; o garoto da bicicleta e, mais abrupto, o seu comparsa na garupa de bermuda verde e sem camisa; quero um cigarro, e na pressa de atravessar a rua em direção ao bar do lado, acabo, distraído, seguindo reto. Culpa, Medo, Raiva; esforço para mudar, colocar o passado no seu lugar; imperfeição; mostrar ao outro um novo controle – uma novidade diferente.

Assim como as pessoas, nem eu queria despedida ou abraços. Não os via. Tampouco os ouvia. Culpa, Medo, Raiva... já não sentia. Só me olhavam julgando o nada de mais ou de menos do suor escorrendo pelo meu corpo.

Por um, dois quilômetros, “culpa medo raiva” aparecia próximo ao letreiro da casa de materiais de construção. Hum, tô chegando próximo ao posto de gasolina.

- desculpa, tem jeito aí num copo d’água?

- tem um bebedouro logo ali do lado do banheiro dos clientes.

- obrigado!

- nada!

Ah, como é bom dizer obrigado! ela era uma garota tão bonita! Até pareceu a única pessoa que não reparou nada demais em mim. Eu, porém, mirei em seus olhos sem querer ser desagradável. Como foi boa aquela água... gelada, esfriou a mente inquieta, temerosa.

Ganhei fôlego. Já eram dez da noite. Comigo, “culpa medo raiva” ressurgia no horizonte. A essa altura poucos olhares partiam-me em sete ou nove pedaços.

pá pá pá pá pá! pá pá pá pá pá!; e, de repente, uma luz se acendeu na garagem. Era ela. Ficou olhando, me analisando dos pés ao meu corte de cabelo. Não me abraçou e nada me disse. Só me olhou. Eu, eu... não a vi.

 

“ah, como é bom dizer obrigado!”




protesto

  num tempo onde as tragédias são celebradas alguns tantos te querem triste, derrotado levante, sorria para o espelho, para a vida o teu sor...