I
Lembra da infância do beijo, da leveza do sorriso estampado na face cravado na carne fraca que sussurrava por alma?
O desejo não se questiona, não se limita. Se impõe.
Meu corpo suplica clemência.
De um lado ao outro só encontro limites que ferem como lanças sem proporções.
E, novamente, o corpo pede clemência.
As sobras de um pouco de esperança insurgem na debilidade que move os movimentos involuntários do meu corpo, como as folhas de uma roseira que, embora secas, resistem ao vento altruísta.
O corpo pede uma alma que o resgate do abandono.
II
Sacrilégio é o gosto amargo da fé. Ando como se estivesse rastejando...
Peculiares são os olhares de todos os lados. Ao me virem começam a mistificar meu silêncio. Não entendem que sou uma estrutura que clama por justiça.
Não compreendo o erro nem a falta. Quantas sombras tentam abafar meu encanto. A dor se cala levando consigo o meu grito. O que me resta? Rastejar.
Levo comigo só o peso do meu corpo que pede um olhar irrestrito, uma chance de brilho, um reflexo de voz.
III
Ontem ninguém chorou minha falta.
A lembrança alimenta a alma e recompõe o corpo.
Fui como poeira. Ninguém desejou sorte à minha partida.
Hoje estou aqui e o cheiro da morte incomoda. Meu corpo exala toda a indignação de uma vida.
Resta o espaço, o tempo e um corpo.
IV
Ensina-me a falar.
Coisas novas me dão alento. Me faça feliz!
Vamos reaprender a andar.
Venha, me ajude a levantar.
Correr, quero saltar no escuro da esperança e beber de sua fonte.
Agora estou sorrindo. Dei um passo. Meu Deus, outro passo!
Sábio engano numa perspectiva positiva.
Tive fome. E me deste de comer.
Relendo as primeiras páginas, descobri entrelinhas no discurso jamais entendidas. Hoje entendo. Que os olhos vêem o que o coração medita. Que as lágrimas caem indagando reconhecer os erros. Que o cheiro clama pelo totalmente outro. Que as mãos ousam tocar o desconhecido.
Ensina-me a perceber.
Outro passo.
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