20 de jul. de 2012

Pássaro Negro

Pecados me mordam!

Caí na emboscada do inimigo
E só com o umbigo me preocupei
Se já me condenaram nesta vida
O que me restará após a morte?
Eu me silenciei em meus delitos
Só pra não machucar os que me amam
Agora me vem a sorte achar um teto
Bem quando ainda é tempo de agonia!
Me paira uma sombra no deserto
Do alto vem comida e bebida
Assim me ensinaram desde outrora
A fé sucumbe e brota a esperança
Onde andará o erro?
Quais os critérios me levarão à graça?

O coração do meu ser vaga pela correnteza da insistência. Meu prazer não digere as fraquezas do choro, nem dos dizeres do povo. Acusações permeiam entre meus braços e, me restou um curto espaço onde eu possa repousar o desejo. 

O espírito se parece com algo infinito. No limite do suspiro esconde-se o mistério derradeiro. Escrevo sob o crivo de tuas ameaças. Em tuas ciladas, o espírito se prendeu ao canto do pássaro negro. Em segredo estão as faltas e a omissão me deixa internamente tranquilo. E o peso da culpa se exterioriza ao canto negro do pássaro. A paz nunca me foi hostil, sequer companheira. Aliada do destino, segue o curso incerto dos mares jamais navegados. E no topo da nau, em seu mais suntuoso mastro, via-se o negro pássaro e seu canto.

O juízo vai ficando escuro quando o engano à vida se agrega. E meu juízo anda se rendendo às mentiras cotidianas. 

O canto negro vai adentrando-se às orelhas. Nada adianta a ação das mãos, dirigindo-se aos ouvidos. Lágrimas caem pelas extremidades dos olhos - entreabertos. A boca soluça umas poucas palavras. Ao queixo, restou-lhe a aflição da cabeça que, ora ao umbigo, ora ao teto, deixa atormentada a palavra. Cada ato busca um refúgio entre a fumaça e o cigarro; entre a mão e seus dedos; entre a ação e o pensamento.

Depois do crime, arrependimentos se escondem no interior da memória, como ao pássaro, seu canto. Quer bom, sombrio ou triste. Queira negro ou não.

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