PRÓLOGO
Das alturas de Profundeza - cidade de grande beleza e desgraça, ao sul do Condado de Sombras, terra de grande fartura de bens e recursos - morava de um lado do rio um senhor, que de tão velho, apelidaram-no de Antiquus. Na outra margem, Gratia, esperava aflita o barco para ter com o velho senhor, o encontro tão esperado.
Gratia era filha de um grande proprietário de terras nas regiões acima dos antigos muros, ao extremo norte da cidade. Seu pai, Ambício, foi nos tempos áureos do antigo regime de Sombras, grande político e orador comparado por muitos, até mesmo com o profeta Sisas. Mas, a sorte não lhe fora sempre aliada. Na festa da coroação do último patriarca de Sombras, Domínio VIII, foi banido para além dos muros pelo próprio profeta num tempo onde deus e homem ainda caminhavam juntos. Sua deportação causou espanto para muitos moradores. A máxima corte, não ousou fugir às ordens do profeta. Sisas não admitia a traição de nenhum de seus comparsas. Normalmente, aqueles que o contrariavam, eram sumariamente julgados. E, desde então, Ambício perdeu qualquer direito civil e religioso em qualquer cidade dentro do Condado de Sombras. Sisis era o único que sabia exatamente o dia do Julgamento dos filhos da promessa. E desde aquela festa, regrada a muito vinho e palavras, que feito agouro, Ambício se envolveu em seu maior pesadelo.
DA FESTA
Eis que uma semana antes da festa, na noite em que a Lua de Felimpo completara seu quadragésimo ciclo depois do último eclipse solar, chegou em meu sonho o convite da boca mesma de Dominio: "Ambicio, caros homens e mulheres, cavaleiros, mercenários, povo de Sombras. Pelas mãos de Felimpo e pela boca de Sisis, serei conclamado o oitavo dessa dinastia a vos servir enquanto Patriarca. Que reine a verdade!"
Acordei em meu próprio sonho e me vi de lá dormindo. Era a realidade se refletindo no espelho da minha fantasia. Uma voz me chamava: Ambício! Ambício! Não sabia distinguir o limite do sonho, donde aquela doce voz me clamava. A direita de meu leito, via a cidade de Núvia, onde nasceram meus pais, e por onde passei a maior parte de minha vida. Meu pai, Diocles, estava amarrando o seu cavalo junto ao celeiro próximo ao Jardim do Desencanto. Levava consigo a filha do tempo, neta do filho que ainda não lhe nascera. Minha mãe, Antúria, dormia ao lado do Poço dos Pedidos, sua mãe, a parteira Lia, tinha forma de lua e de sua boca saia meu nome.
Do outro lado de meu leito, estava Lena, grávida de nossa terceira filha, Kríades, oferecida ao demônio Victor, príncipe que vive submerso nas águas do Rio das Insanidades. Mas, o que me deixou aflito, foi que entre minha mãe e minha avó, um fogo de cores negras fluía em direção à cidade de Profundeza, inundando-a.
(...)
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