18 de ago. de 2013

A maldição das sombras de Almadã

          
              Pouco a pouco o riso abria-se. Como por encanto, tornava-se... O vento achegara-se até a janela, mas foi impedido pelas mãos de Elian. Lá mesmo ficou. O brilho de um raio vindo do chão da sala irrompeu-se formando uma nuvem que ligava o seu interior aos olhos de quem se atrevia mirá-lo. Muitos o fizeram, e desde então, nunca mais enxergaram. E o coração daquela mulher naquele exato momento resolveu parar. Era Lia, anunciando mais um tempo de aflição. Sua maldição era carregada de mistério e de estranheza por parte da população de Açaigon, principalmente suas irmãs, Elma e Plena. Desde que fora acometida pela maldição dos sonhos de Agan, demônio das montanhas sagradas ao norte de Almadã, sofre com a perda da guarda de seu filho por suas irmãs, há vinte e dois anos, como manda o código dos Murais de Areia. Só a morte do filho mais novo de Agan, Opus, seria capaz de libertá-la das mãos das montanhas sagradas do norte.

            Mulher com o corpo formado de estrelas. Seu coração é feito um planeta a girar no sentido ante horário. Mãos de nuvens, pés de vento, vive escondida na floresta da noite. Só seu filho é capaz de tirá-la do poder das matas. Só ele é quem pode interpretar suas cantigas, maneira de como fala nos sonhos. Chora em forma de chuva. Pensa com os olhos, estrelas maiores de seu corpo.


           Mas o que levaria a mulher de Agenon, o político, sofrer com tamanha maldição? Retaliação por conta do desaparecimento de Elianã, a guerreira, tomada em posse por Agan? Desde o desaparecimento de Agenon, quando foi acometido pelas sombras de seu filho - os filhos varões são guardados pelas sombras e nem mesmo seus pais podem participar de seus poderes - o que teria acontecido com Elianã, a guerreira, ninguém sabe ao certo. Agenon, motivado pela vaidade e ganância, não poupou seu próprio rebento. Jamais queira ter a sombra de seus primogênitos em seu poder. Mas Agenon não foi o único a querer participar de tão precioso encanto. Quem tem a sombra em seu poder, tem também a proteção do tempo. Onde há sombra, reina a claridade. É o sonho de Lia que ilumina os passos de seu filho. Parar-lhe o coração é deixá-lo sem a proteção à noite.

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