Quantas certezas eram falíveis. Vi alguns mortos correndo pelo quintal da minha casa. Brincos, sapatos, pulseiras. Pés, mãos e joelhos preservados. Ainda não sabia o que era amar. Sofrimentos, já me eram familiares.
Meus pais em pé na porta da
sala. Ninguém entrava ou saía. Só os mortos.
Fui abusado na infância pela
minha psicóloga.
Morri no mesmo dia em que descobri que eu não era mais nem menos que um menino pobre. É que a morte só existe na cabeça dos vivos. E você, já está morto?
Eu já.
Não se preocupe, não
é meu papel brincar com a tua fé nem com as tuas manias.
Entre ressentimentos e
sentimentos, sentei-me no sofá da sala. TV ligada, chão empoeirado, mesa de
centro no canto esquerdo próximo à porta. Um toque de telefone rompe a trama do
desenho animado como os estalos no inferno quando Jesus por lá esteve. Só de
passagem. Era ela, a psicóloga que outrora estuprara minha mente.
Morro a morte e não quero essa
tal vida curta. É tão bom aqui! Meu lugar antes do parto. Aqui o sol não nasce
nem se põe. Águas em abundância saciam qualquer sede. É tão bom aqui! Se sentir
incapaz! Nada, nada posso ou preciso fazer para ser feliz. Basta-me não pensar.
Nem perco ou ganho tempo. Na morte, ele não existe. Subsiste.
Ela me disse que eu seria
feliz, não me cobrou nada. Disse também que a angústia traz a paz. Concordei.
Chorei a vida de meus pais. Não preciso aprender coisas de gente grande
(risos)!
E você: já morreu?
Eu já.
Pontualmente reticente, eu sou
todo o espaço, todo o azar e sorte. Tudo está em minhas mãos.
E eles... se foram como um
parto. Eu ainda estou aqui matando, feliz, o meu eterno dia. Ela, ela brinca
com meus sentimentos. anestesia minhas vontades. inebria-me.
Sinto muito por você que ainda
vive. Sinto muito por todos. É tão bom aqui! Às vezes fico imaginando o que é
viver e, tão logo, me dá uma preguiça disso tudo-nada aí... porque tudo é tão
pouco, tão curto, tão vago. Jesus só foi aí de passagem. Aqui ele e eu nos
encontramos.
“a
morte só existe na cabeça dos vivos”
Moringa
(Marcio
Lima)
é resgate ou sequestro
coração não sabe ao certo
se fica ou se aventura
é cerrado, é deserto
um distante, outro perto
nosso amor é nossa cura
um,
somos
dois e somos um
sem
mais porquês
somos
dois e somos um
iguais
o quê?
a aridez em teus lábios,
menina
maltrata e fascina
essa chuva que mal chega,
respinga
tua lágrima na minha
um,
somos
dois e somos um
sem
mais porquês
somos
dois e somos um
iguais
o quê?
é o cansaço do oleiro que
finda
na curva da moringa
é saudade que se acaba,
termina
vai a noite, vem o dia
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