LIBERDADE E OPRESSÃO
Um som preso ecoa da parede.
A velocidade parte rumo ao volume do home
theater. Minha lição de cidadania não é mais tão ortodoxa. Minha infância
foi tão dissimuladamente ortodoxa, que positivamente contribuiu pra minha
completa liberdade em assuntos de preconceito. Não dá pra amar e perder tempo,
ao mesmo tempo. Impossível, pois o cuidado é aliado das causas e não dos
efeitos que surpreendem. Preciso a cada dia de ser de fato livre e cauteloso a
ponto de prever, que não constando das causas reais, tenho que prover. “Prever”
e “prover” não cabem na mesma frase. Radicalismos a parte, vale lhes contar um
pseudo-segredo: sou um típico geminiano, e não dá pra ser responsabilizado
sempre. Entre os que acertam e os que erram, não tome decisões em longo prazo, no
ocaso tudo pode mudar. O vocábulo “valores” fica mais bonito quando está
relacionado ao dinheiro. Priorizaram esse termo ao que verdadeiramente é útil.
Somos pragmáticos, determinados e temos pressa. Nosso coração bate forte quando
o assunto é o dinheiro.
No meu caso, bate forte a
cada dia. Predominantemente pelo déficit.
Alguém quer acordar de um
sono que propôs um sonho cheio de negativas... Tinha razão, enfurecido o
Mestre, quando era interrompido por seus discípulos com questionamentos não tão
relevantes.
O velho sonho do profeta,
que o acompanha e o estigmatiza por toda sua vida é o meu sonho também. Ele
prevê o que talvez não necessite. A pessoa do outro lado da situação ao menos
se questionasse o favor do profeta, já seria uma grande revolução. Antigos
dilemas se cruzam novamente. A vez do outro
que tanto atormenta. E quer respostas. E te ameaça. O tempo inteiro.
Precisamos de uma força,
mesmo humana (predominantemente), exterior a nós que nos indique caminhos ou
mesmo trilhas pra um norte convencionalmente justo. Em certa medida somos
genuinamente reacionários.
Meu corpo pedia um pouco
mais de repouso. Tornou-se uma rotina. Ter que ir pra tão longe, entrar por uma
dezena de vezes numa sala de aula.
Sinto-me hoje um pouco mais
livre. Liberdade que não passa de um simples reconhecimento das capacidades que
tenho. Uma delas é admitir que o erro é conseqüência do exercício dos meus
sentidos. Meus sentidos estão sempre a me induzir ao engano. Tinha razão o
filósofo quando disse que o conhecimento está ligado a certos juízos que fazemos
da realidade.
O que me oprime hoje são as
insatisfações. Saber que sou fruto das escolhas que faço. De fato,
reconciliar-se consigo mesmo é o caminho para a busca da verdade.
O que é a verdade? Defini-la
custa o preço de toda uma existência. Compreendê-la, o ponto máximo da busca.
Vivê-la, a eternidade.
Não está errada a frase que
diz que só a verdade liberta, mas o grande engano está na forma como ela é
pintada. A livre verdade está no caminho inverso. Ir ao seu encontro é encontrar-se
consigo mesmo.
Não preciso tanto da noite
como outrora. A noite é tão singular e onde o
humano é demasiado humano. É no breu que nos encontramos. Nele nos
descobrimos. O medo é positivamente instigado pelo instinto.
Será que na verdade somos o
que sentimos? Criamos uma série de causas, muito delas sem um propósito justo.
Mas quero que entendam que o
que era confuso, em meio a sorrisos, se fez claro. Nem sempre a objetividade é
eficiente. As melhores respostas são aquelas que mesmo sendo esteticamente
simples, em si mesmas são conclusivas. Trazem em seus contextos verdadeiras
asserções.
Isso aconteceu comigo. Não
dá pra trazer a treva pra um mundo que não dorme nunca. A noite vira dia o
tempo inteiro. Tem gente que descarta o sono e vive um constante sonho. Uma
busca utópica.
Não dá pra descartar a noite
de nossas vidas. Assim como o dia vai embora descansar, somos todos.
A chama tem de estar acesa.
Como brasa. Mas o que seria da luz sem a noite? É a noite que ela se exibe.
Não queremos assumir a treva
porque ela é maior que a luz. Ela não reclama à luz e ninguém se faz cego
porque acha bom. Todos temos um breu. Não damos tempo pra conhecê-lo melhor.
E nesta noite eu chorei.
Reclamei. Tive medo e saudade.
E resolvemos sair.
Parte 3?
ResponderExcluirEm breve...
Excluir