18 de mar. de 2012

Mulatice


Quando me vejo não sei ao certo
Como uma sombra de poeira no universo
De cores mil se ordenado
E minha pele se desconhece
Socialmente suburbano
Não tenho visibilidade
Encaro o mundo com engano
E nos barracos da cidade
Danço meu samba com encanto
A cor do pão, dos pés, do santo
A preta mãe, o papa branco
No afoxé e ave-maria
Na antemão do meu quadrado
Vou me encaixando no meu quarto
Enquadro a fé reveladora
Me entretenho com o cigarro
Dirijo os passos do açoite
As costas choram o sangue iníquo
E resistindo afim da força
O coração bate um bocado
E cria a couraça do desapercebido
Fingindo ser o que sonha
Cantando o mundialmente literário
E a minha pele impõe um preço
Meus cabelos ganham um corte
Nem tão escuro como conviera
Nem tão claro que convença aos olhos
Quero um nome que me apraz
E um ninho menos estranho
Quero desigualmente contestar
E sorrir por mais um ano
Tua beleza  traz ao pensamento
Uma centena de motivos
E a moral, mais que certeira
Escorpiões envenenando
As mentes fracas da visão obscura
Sentem a fome do ostracismo
Como esterco esquecido
Ou ração que nutre a alegria
Herdei tua joia mais pura
O riso que engana o turista
A dança que humilha o passista
A música que emociona despretensiosa
Minha mulatice me leva ao delírio
A mestiçagem é "pau pra toda obra"
E no caminho, a crueldade
Vai criando portas mortas de destino
E na insistência do meu delito
Eu mato a cor e honro o fardo









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