30 de dez. de 2013

lidar

na luz a escuridão
repartiu
ao meio o céu e o mar
por onde o coração
resolveu 
e decidiu ficar
pra dissolver a solidão
soltar a voz
sem medo de lutar
livre da escravidão
com a emoção 
em paz saber lidar






29 de dez. de 2013

se dissipa

onde falta saudade
sobra arrependimento
o passado cumpriu seu desejo
seu destino sucumbiu ao chão
sob a mão se escondeu o beijo
sua metade, pedaço, fração
que aflora nos poros
das folhas, dos solos
da natureza humana
do raio do sol
do brilho da lua
imensidão do mar
que no céu se dissipa


28 de dez. de 2013

limite

pra não passar do limite
vou encontrar-me comigo
ver onde mora o perigo
e dispensar o convite
amor não sabe onde pisa
vento que leva essa brisa
por onde corre o teu rio
o sol corrompe o meu frio
o breu apaga a lanterna
a sorte
a vida é breve e eterna
a morte


24 de dez. de 2013

meu apelo

e quem me olha não me vê
quando me vê, tô de partida
não vou jurar outra mentira
nem profanar o pensamento
deixar justa qualquer medida
reconstruir outro momento
que a febre queima até a alma
pra suscitar meias verdades
que o silêncio não acalma
e o coração pelas metades
pede arrego ao fim do dia
o que é sonho ou pesadelo
que leva e traz essa agonia
sequer atende ao meu apelo?







23 de dez. de 2013

noutro mar

quando o coração silencia
aonde é que vão estar os sonhos
é que o vento parou de soprar
e a solidão à deriva ficou
foi quando a morte se igualou à vida
e o tempo eterno chamou a si os seus
a consciência deixou de sentir
e a vaidade no chão descansou
que se renasça enfim um novo homem
e um novo céu possa aparecer
outro sentido possa transcender
e noutro mar se possa navegar



22 de dez. de 2013

no tempo

me diminuo pra caber 
na mente
reivindico o meu prazer
latente
me desespero pra entender
teu jeito
e me entrego sem saber
direito
o conteúdo corromper
a forma
a condição favorecer
a norma
um meio para amolecer
o duro
água bater até fazer
o furo
o dia deixa em meu poder
a fama
a noite chega pra aquecer
a cama
toda a verdade se encher
de vento
se encontrar e se perder
no tempo






21 de dez. de 2013

desregrado

vez em quando
essa batalha de desejo
e de engano
esse compasso em tua boca
mero deslize pela nuca
apunhalando pelas costas
com desencanto
finjo deriva, finjo pranto
e agonia
te ter bem perto do joelho
é meu quebranto
desamparado pelo vento
por meu pecado
feito cantiga no deserto
do umbigo
para embaralhar a vista
o equilíbrio
e se alegrar mesmo com fome
ou desregrado

solte

paraíso, o choque
para o riso, a pena
ao mais cego, venda
cicatriz, o corte
sem caminhos, senda
renascendo, a morte
o cigarro, acenda
minhas armas, porte
ao passado, lenda
se lhe tenho, sorte
se lhe ganho, prenda
se lhe soltam, prenda
novamente, solte




Mesmo que o abandono lhe chegue
Não se perca a intenção primeira
Nem se turve o olhar 


lágrimas do porvir

um toque breve chega à pele 
um jeito raro finge mero início

coração ferido 
não sabe o rumo de si
deixa a mania terminar o início
seja pesado ou seja leve o vício
desmascare o tom amarelo
dê lugar ao branco
neve de emoções
que derretem de forma incolor
as lágrimas do porvir

inverno

quando o inverno se for
possa deixar o amor
e a glória
onde divaga a dor
que apressa os sentidos
finge ter força imortal
e reveste na alma
a ânsia que vira desejo
calma que amolece o peito
para não desesperar
a vontade frontal da cabeça
amoleça
a precisão do teu mal
que encaminha o nexo ao lixo
deixa migalhas no chão
para iludir de presença
o inverno que se foi

16 de dez. de 2013

o sol vermelho

o sol vermelho
clareia meu escuro
revelando o futuro
antes da manhã
o sol vermelho
desfaz qualquer indício
segrega o meu vício
enganando a dor
o sol vermelho
chega por sob a pele
seu veneno desfere
pra me seduzir
o sol vermelho
me deixa intranquilo
violando sigilos
faz de mim ruim
o sol vermelho
invade meu sossego
me cobra desapego
quer exatidão
o sol vermelho
tem sua alquimia
inventa a alegria
disfarça a escuridão




15 de dez. de 2013

emoções extrativistas

são emoções extrativistas
que se hospedam por aí
o coração a flor da pele
é um punhal que se desfere
no peito
ou pedestal que se venere
respeito
são emoções extrativistas
que se hospedam por aí
colhem até que se acabe
o fruto
em outro peito se desabe
o luto
enquanto quebra o espelho
a luta
aos teus pés me tens de joelhos
a culpa



se corrigir

quando a alma não cede
que o corpo resiste
não se sabe ao certo
por onde andar
aonde ir

eis que a mente se aquece
a testa enrijece 
que o jeito é tentar
se corrigir




14 de dez. de 2013

destino

sua memória é tão curta
que não merece a lembrança
chegou de vez a esperança

e o que é meu, eu não entrego
mesmo que o fim seja um começo
ou retrocesso
um passo à frente
e quantos outros já passaram
que nem o tempo há de medir
nem mesmo a falta 
ou a fartura
a temperança
a desventura
o descompasso
até o nada perde o sentido
o derradeiro dá início
ao novo dia
e outros ares se levantam
novos sonhos
deixa a vontade desmedida
de si mesma
e que o frio traga ventos
a noite volte amanhã
para acordar o espírito
e desvendar o destino








dentro da cabeça

achei que seria errado
não mais ter que ceder
o meu jeito arriscado
de desobedecer 
a voz
e julgar desnecessário
sentir além do tom
deixar no imaginário
à noite um sonho bom
de nós

que o homem veio a saber...

e quem acredita
palavra inaudita
no centro da sala
é velho de novo
no meio do povo
fazendo as malas
a luta persiste
que o forte resiste
e o fraco se abala
dentro da cabeça
o eterno aconteça
no breve da fala





12 de dez. de 2013

entre o rio e o mar

o nosso encontro
é onde fica o ponto
exato entre o rio e mar
teu doce no meu salgar
o sol ilumina o chão
a lua, a escuridão

entre o rio e o mar
canto uma canção
som da onda a se quebrar
nas pedras da solidão

queira me falar
queira ser um só
momento de arriscar
a fé desata o nó

o meu orixá
veio em oração
sete vezes entregar
o meu corpo ao coração

o rio e o mar
pareciam um
com as bênçãos de Iemanjá
e as graças de Oxum



9 de dez. de 2013

o que de mim importa

me vem uma vontade
a luz
atormentar a sombra

de dia ela acende
o sol
à noite ela se joga

não sabe de mim, nem sabe de nós
mal chega, abre a porta

acima do mar, abaixo do céu
nas nuvens ela mora

nos sonhos ela é doce
seduz
remenda o meu desejo

acaba o remédio 
a dor
trai o meu pensamento

depende do som, escutar a voz
que pede uma resposta

respeito traduz à luz do prazer
o que de mim importa









teu ar

já não preciso do teu ar pro meu respiro
nem tua falta faz do dia a precisão
quero um bocado de alegria no sorriso
em tuas asas, liberdade foi prisão

e a cabeça anda leve
pra alimentar de pão a fome
à tarde o dia fica breve
à noite o juízo consome

e quem diria que o sol não é pra sempre
e que as estrelas das alturas despencassem...






8 de dez. de 2013

deixa eu te querer

deixa eu te querer
ao menos uma vez
dediquei um mês
ou três
foi dois, para você
no meu pensamento
só sei do teu calor
nuvem de ilusão
deixa eu te querer
peço permissão
me dá tua mão
sinta o bater do coração
é teu
deixa ele sofrer por teu amor
custe o que custar
valha o quanto for
deixa eu te querer
antes que a dor
venha me dizer
amor é de graça 
ele não disfarça
é doação

casa de mocambo

nessa casa 
de mocambo
ardeu a chama
do pavio
a esperança
foi levada
lá em baixo
no navio
quando triste
na chegada
pouca água
desafio
o meu preço
tem quem paga
arremata
meu vazio
mina d'água 
é morada
dos senhores
do plantio
sua força
leva a mágoa
enxurrada
desse rio




patamares

quando se apaga a chama
eu olho para trás
para frente é que se anda
que o músculo se retrai
ontem fiz um juramento
e hoje já quebrei
violei o pensamento
o outro acertei

cinzas, pedras, patamares
na caixinha esconder
quero os rios, quero os mares
no bolso, oferecer
não me venha com lugares
aqui mesmo vou fazer
vou jogar tudo pros ares
velha chama acender

que o crime se enquadre
e o sonho desperte
realidade que se acabe
de novo comece
um pedaço de descaso
o amor se omitiu
só um jeito nesse caso
o coração se abriu

cinzas, pedras, patamares
na caixinha esconder
quero os rios, quero os mares
no bolso, oferecer
não me venha com lugares
aqui mesmo vou fazer
vou jogar tudo pros ares
velha chama acender




primaveril

abandonei os livros sobre a mesa
fui ver o tempo passar
e da janela eu vi a natureza
o vento feito de ar
de som
canção
passeia pelas ondas
do meu coração
a flor
se abriu
que deus abençoou
o tom primaveril
azul
de cor
o dia iluminou
o céu ficou anil





meu caminho

mostra no total
a tua fragilidade
voraz
deixa escapar o tempo
da bolha de papel
no arco e flecha da emoção
desdobra-se em dois
quando é só um 
depois reclama da saudade
coração amou... 
que ele não tem o direito
de desendireitar o meu caminho

meu tropicalismo

abrir o coração antes da flor
sentir a emoção, seja o que for
deixar a ilusão te encontrar
compor, sorrir, andar, correr, chorar
tropeço em meu tropicalismo e só
estética de laços em meu nó
o mundo me parece menos mais
navego e não saio do meu cais

tamanho de vento
colorindo o ar
me perco no tempo
me custa custar
no chão um poema
se referendou
na boca a palavra
lá mesmo ficou











dezembro

no riso a graça
no corpo vazio 
um coração
no peito a raça 
quer humanidade 
em qualquer situação
eu levo no jeito 
as marcas da emoção
carrego na alma 
o lamento da canção

num copo de água
relembro a mágoa
a ilusão
caio de cascata
viro acrobata
pra fazer a zoação 
coração cigano
esclarece a escuridão
lamento, engano
descobrir o sim e o não

acendo um cigarro
de novo um trago
de prazer
eu prendo, amarro
atiro, disparo
pra depois te merecer
dezembro, desmando
luta existencial
dizendo, ditando
esse texto marginal

não sabe de nada
e tudo parece 
o que não é
aceita, acende
se compra, se vende
pra fazer o quê da fé
se solta, se prende
pra amarrar o pé no chão
disfarça, se rende
desavisa o coração




6 de dez. de 2013

se perder

quero me juntar a você
pra poder fazer
um joguinho
se envolvendo
mas, só um pouquinho
que o azar tá solto
dentro da cabeça
que feito criança
perde a esperança
se perde na dança
que entrou
um risco é não aprender
sonhar
buscar
achar
se perder
sonhar
buscar
achar
se perder


escudo

um reto coração não perde a esperança
vontade volta e meia finge ser criança
que o jeito se reprime, fica amarelo
quer seja em ruína, seja num castelo
e noutros olhos o feio se torna belo
bem nessas horas chora o violoncelo
pra arrematar o sonho
eu pinto minha cara
escondo o meu destino
esqueço do passado
e deixo mudo
o teu silêncio na esquina
que de amargo desatina
vou desarmar o teu escudo




o céu

não há maior disfarce que o céu...
é claro ou escuro
é de sol, é de lua
palavras de trovão
lágrimas de chuva
sonhos de nuvem
pingente de estrelas



o que não tem jeito

um cigarro acendi para então dormir
que hoje o meu dia foi ensolarado
aquela canção novamente tocou
e deixou entreaberto o juízo com sono
o meu vício ficou para outras cabeças
a vontade acertou o meu risco em cheio
refazer umas coisas que me impediam
de eu ser o que sou e não o que pensam
pesa sobre os meus ombros um jugo suave
na mão levo uma lança, na boca um segredo
no corpo uma esperança, na mente o medo
amanhece o eterno e a noite se escorre
pelos dedos dos pés indagando o caminho
sei que o mundo é pequeno, grande é a falta
pra aquietar o juízo, um pouco de lua
não espere do outro o amor que é divino
nem deseje ao próximo o que não tem jeito







5 de dez. de 2013

segunda pele

"numa segunda pele
mora a vaidade
e o mal que se desfere
antes lhe atravessa"

outro jeito

esfriar pelo sul
pelo norte ferver
se atirar de obus
atingir o prazer

feito de estrelas é o caminho do breu
nossas querelas com a lua se vão
pra anunciar que na terra anoiteceu
nossos desejos num se diluirão

deixe a porta entreaberta por favor
que pela brecha uma luz sai radiante
desfalecendo a fortaleza dessa dor
principiando o promissor iniciante

num branco gelo para afastar o luto
covardemente ele sorria do mal feito
e nada sei sobre o futuro, um minuto
inventarei uma verdade de outro jeito

4 de dez. de 2013

o tempo remedia

invadiu o grito
despiu o silêncio
estancou o vício
sangrou o lamento

que a gargalhada está solta na calçada
o dedo torto indica o rumo do caminho
a voz divina é pra espantar o desespero
o sentimento segue a trilha da verdade
samba canção tá me deixando meio tonto
vou assumir esse chorinho no meu peito
vou escalando essa ruína e lá do alto
o equilíbrio seja o pão, seja o sustento
medir a falta, o repúdio, a ganância
é desferir no próprio peito uma lança
uma ferida que o tempo remedia
não há maior desilusão que o vazio

o tempo remedia
a falta, o repúdio, a ganância
o tempo remedia
o grito, o silêncio, o lamento
o tempo remedia
o vício, a verdade, a ferida
o tempo remedia
o sustento, o sentimento, o vazio



por alegria

o que falta ainda sobra
em prateleiras soltas por aí
eu não quero algo sério
meu poder se acaba de manhã
nem lhe tenho por inteiro
se dê aos pouquinhos, devagar
outro dia, vê se esquece
a vontade não é de cristal
minha falta, tua culpa
experimentei o teu veneno
passa a noite, outro dia
troco o perdão por alegria


3 de dez. de 2013

sendo ele

será o vento
será o canto
que leva o meu lamento
meu desencanto
que brinda um juramento
depois finge espanto

será o canto
será o vento
que tece uma teia de acalanto
de sentimento
estima a certeza de meu pranto
de fora vê a dor que fica dentro

pela voz
ou pelo ar
se confundem na fumaça do destino
canção
ou temporal
de vez em quando quem manda é o coração

vou musicar um tempo bom
que deixe o homem em frente à sua sorte
e mais humano ele se mereça
se torne ele mesmo sendo ele

tensão muda

e despencou de uma altura pavorosa
que nem o dia teve tempo de alcançá-lo
e de repente a tarde se deu conta
vegetação amena daquela muralha
de longe o sol endireitava sua visão
de perto o medo aterrizava pelas nuvens
o seu respiro adormeceu feito criança
os sonhos se aglomeravam um a um
o suor frio escorria pelos lados
a tensão muda se entregou à esperança

esconderijo

no braseiro
se perdeu o destino
fora do corpo
dentro da mão
entre a pele
e uma segunda pele
acima da graça
abaixo da orelha
no rastro do tempo
que se acaba
enquanto houver brasa
há esperança
que depõe contra o tempo
dele se liberta
rumo à fumaça
esconderijo do espírito

2 de dez. de 2013

as cinzas

acendo um cigarro
tem um sabor amargo
a ilusão
que o grito fica rouco
desequilibra um pouco
o coração
sonho virou saudade
utopia, verdade
intuição
convicção covarde
amor, felicidade
abstração
água furou a pedra
rumo levou a regra
à decisão
se vão fumaça e cheiro
as cinzas no cinzeiro
a solidão





1 de dez. de 2013

sabiá

emudeço
ao som
do silêncio
a cabeça
não se cansa
adormece
vira sonho

o que espanta o medo
afugenta o vínculo
amolece o enfático
entristece o cético
desapega o âmago
desafia o poético

ao despertar
reaparece
a vontade
primeira
e derradeira
vira desejo
se esconde
ou se revela
de dentro
à medida
do juízo
da cabeça

por que canta o sabiá
pra despertar a aurora
ou acordar o silêncio
envaidecer a memória
agradecer o momento?








protesto

  num tempo onde as tragédias são celebradas alguns tantos te querem triste, derrotado levante, sorria para o espelho, para a vida o teu sor...