21 de set. de 2020
barraco
12 de set. de 2020
valor
todo o significado do objeto
é desumano
uma ideia
um engano
do tamanho da ordem e do progresso
10 de set. de 2020
pedras no caminho
no caminho
e quem será
que ali
as colocou
foi um vento forte do destino
ou uma meia volta
que voltou?
nada demais
quando eu não sei qual é a tua
nas mãos te tenho além
na mente, nua
e desse jeito eu entendo a tua falta
o meu desejo mais sutil por ti é nada
o que vou fazer pelo teu amor
o que só você tem a supor
as mãos do inocente
as mãos do inocente
a decifrar a solidão
depois do parto
quando num susto
lhe arrancam da vaidade
e agora
enfrenta o absurdo
da saudade
que
não tem escolha
o abandono
nem mesmo
a
felicidade
o seu sonho
é o seu caminho...
9 de set. de 2020
vela
7 de set. de 2020
Olhares
Parti. Dos olhares comuns
julgando o meu corte de cabelo. Parti.
Não imaginava que o
envolvimento com as drogas fosse um envolvimento com pessoas. Polícia e poder
de polícia por todos os lados e, num dos lados, eu. Escondido.
Só dava pra levar aquilo a
sério na brincadeira.
Eles eram um caderno brochura,
eu um espiral. Dobrei a página lentamente e quando dei por mim, corria por uns
duzentos metros distante daquela cena.
- tem horas?
- oito e meia – respondeu-me
sem muita pressa um senhor negro de chapéu. Eu (risos) quase correndo.
Todos me olhavam. Eu não os
via; a moça da padaria, os carros que iam e vinham; o garoto da bicicleta e,
mais abrupto, o seu comparsa na garupa de bermuda verde e sem camisa; quero um
cigarro, e na pressa de atravessar a rua em direção ao bar do lado, acabo,
distraído, seguindo reto. Culpa, Medo, Raiva; esforço para mudar, colocar o
passado no seu lugar; imperfeição; mostrar ao outro um novo controle – uma
novidade diferente.
Assim como as pessoas, nem eu
queria despedida ou abraços. Não os via. Tampouco os ouvia. Culpa, Medo,
Raiva... já não sentia. Só me olhavam julgando o nada de mais ou de menos do
suor escorrendo pelo meu corpo.
Por um, dois quilômetros, “culpa
medo raiva” aparecia próximo ao letreiro da casa de materiais de construção.
Hum, tô chegando próximo ao posto de gasolina.
- desculpa, tem jeito aí num
copo d’água?
- tem um bebedouro logo ali do
lado do banheiro dos clientes.
- obrigado!
- nada!
Ah, como é bom dizer obrigado!
ela era uma garota tão bonita! Até pareceu a única pessoa que não reparou nada
demais em mim. Eu, porém, mirei em seus olhos sem querer ser desagradável. Como
foi boa aquela água... gelada, esfriou a mente inquieta, temerosa.
Ganhei fôlego. Já eram dez da
noite. Comigo, “culpa medo raiva” ressurgia no horizonte. A essa altura poucos
olhares partiam-me em sete ou nove pedaços.
pá pá pá pá pá! pá pá pá pá
pá!; e, de repente, uma luz se acendeu na garagem. Era ela. Ficou olhando, me
analisando dos pés ao meu corte de cabelo. Não me abraçou e nada me disse. Só
me olhou. Eu, eu... não a vi.
“ah,
como é bom dizer obrigado!”
Sanatório
As mentiras eram do tamanho do
nosso amor. Nossos corpos, nossas bocas, uns cigarros, uns edemas, um frontal
entre as fronhas ... levitavam da nossa cama.
Dias sem comer. Sem fome.
E quem me comanda?
- O sol!
Hoje ele não veio. Quem veio,
veio me buscar. Enganou-me com seus erros, dopou-me de caprichos, sugou-me para
o devaneio de amar. Roubou-me de ti, ó sol!
E lá na minha zona de conforto
admito que morri. RESSUSCITA-ME!!!
...
Ele trazia as chaves que
abriam as portas do sanatório. Não me abriam. Saí pelo portão da frente como se
estivesse fugindo saltando o muro baixo lá nos fundos da casa. Ele não trazia
nas mãos poder algum que me libertasse do ópio de um sorriso incerto. Fui como
se lá ainda estivesse. O presente tornara-se um outrora na esperança cruel de
um amanhã.
Eu andava preso nas anotações
de meu caderno de bolso que me acompanhou, incômodo, durante todo o trecho de
respiração que eu passei naquele lugar até nascer o presente do presente. Hoje!
Pobre homem de sangue. Suga,
podre, o meu leite e disciplina o desejo mais vil da minha mente. No tropeçar
de sua língua lhe encontro e me desato de seus encantos. Desencantos.
Retirei do bolso todas as
minhas vontades.
Tenho medo e raiva. Num oásis,
só um deserto; uma ilha; Paisagens de ar, areia e sol.
“ele
trazia as chaves que abriam as portas do sanatório. Não me abriam”
“tudo
passa, vendo você passando com os demais”
Passagem
(Marcio
Lima)
de tanto comer
de tanto fumar
de tanto você – em mim
penso: vai chover
vou me afogar
em tua lagoa – à margem
e eu, tô só de passagem
e eu, tô só de passagem
tentando fugir
um muro escalar
antes de romper – a claridade
vou me esconder
dormir e acordar
depois percorrer – pela cidade
e
eu, tô só de passagem
e eu, tô só de passagem
a dor
de ser
um só
me faz olhar
o sol, a lua
vencer
doar
doer
o coração
juntar – cada pedaço
e
eu, tô só de passagem
e eu, tô só de passagem
Parto
Quantas certezas eram falíveis. Vi alguns mortos correndo pelo quintal da minha casa. Brincos, sapatos, pulseiras. Pés, mãos e joelhos preservados. Ainda não sabia o que era amar. Sofrimentos, já me eram familiares.
Meus pais em pé na porta da
sala. Ninguém entrava ou saía. Só os mortos.
Fui abusado na infância pela
minha psicóloga.
Morri no mesmo dia em que descobri que eu não era mais nem menos que um menino pobre. É que a morte só existe na cabeça dos vivos. E você, já está morto?
Eu já.
Não se preocupe, não
é meu papel brincar com a tua fé nem com as tuas manias.
Entre ressentimentos e
sentimentos, sentei-me no sofá da sala. TV ligada, chão empoeirado, mesa de
centro no canto esquerdo próximo à porta. Um toque de telefone rompe a trama do
desenho animado como os estalos no inferno quando Jesus por lá esteve. Só de
passagem. Era ela, a psicóloga que outrora estuprara minha mente.
Morro a morte e não quero essa
tal vida curta. É tão bom aqui! Meu lugar antes do parto. Aqui o sol não nasce
nem se põe. Águas em abundância saciam qualquer sede. É tão bom aqui! Se sentir
incapaz! Nada, nada posso ou preciso fazer para ser feliz. Basta-me não pensar.
Nem perco ou ganho tempo. Na morte, ele não existe. Subsiste.
Ela me disse que eu seria
feliz, não me cobrou nada. Disse também que a angústia traz a paz. Concordei.
Chorei a vida de meus pais. Não preciso aprender coisas de gente grande
(risos)!
E você: já morreu?
Eu já.
Pontualmente reticente, eu sou
todo o espaço, todo o azar e sorte. Tudo está em minhas mãos.
E eles... se foram como um
parto. Eu ainda estou aqui matando, feliz, o meu eterno dia. Ela, ela brinca
com meus sentimentos. anestesia minhas vontades. inebria-me.
Sinto muito por você que ainda
vive. Sinto muito por todos. É tão bom aqui! Às vezes fico imaginando o que é
viver e, tão logo, me dá uma preguiça disso tudo-nada aí... porque tudo é tão
pouco, tão curto, tão vago. Jesus só foi aí de passagem. Aqui ele e eu nos
encontramos.
“a
morte só existe na cabeça dos vivos”
Moringa
(Marcio
Lima)
é resgate ou sequestro
coração não sabe ao certo
se fica ou se aventura
é cerrado, é deserto
um distante, outro perto
nosso amor é nossa cura
um,
somos
dois e somos um
sem
mais porquês
somos
dois e somos um
iguais
o quê?
a aridez em teus lábios,
menina
maltrata e fascina
essa chuva que mal chega,
respinga
tua lágrima na minha
um,
somos
dois e somos um
sem
mais porquês
somos
dois e somos um
iguais
o quê?
é o cansaço do oleiro que
finda
na curva da moringa
é saudade que se acaba,
termina
vai a noite, vem o dia
__________________________________________________
o seu amor
um toque de brio
me aquece no frio da noite que
embala
as nossas palavras de amor e
carinho
me deixa encrencado, carente,
amarrado
sem sono na cama
na mesa dois gramas de sonho
roubado
mar...
são
águas profundas em meio ao raso
mar...
pois
quando o amor é o amado
não
tem desculpa
é feito um laço
que ato, desato, sem eira nem
beira
cansaço, canseira, se entrega
de fato
desvenda segredos, instiga
meus medos
depressa, divago
errado me calo, calculo os
desejos
mar...
são
águas profundas em meio ao raso
mar...
pois
quando o amor é o amado
não
tem desculpa
é
feito um pedaço de mim,
trecho
de nós
cadê a verdade?
unida à vaidade me fere sem
pena
maltrata, condena, rouba a
liberdade
e não tem limite
reparte, divide
o choro, a pena
que o mundo condena, disfarça
e assiste
mar...
são
águas tão turvas em meio ao nado
mar...
pois
quando o amor é o amado
não
tem desculpa
é
feito um pedaço de mim,
trecho
de nós
6 de set. de 2020
dobradiças
transo amor
e quero o sexo
que o nosso acasalamento
é uma obra de arte
ao te aparecer
nu
molas se entorpecem ao som de teus cânticos
a vibrar de um lado ao outro
rompendo a minha concentração
o meu destino agora é teu
os meus dedos
são teus
dobradiças se abrindo
portas corrompem-se
quando cantas
já não me cansa qualquer ilusão
à toa
à toa
sou tua, mais que teu
sou teu, mais que tua
protesto
num tempo onde as tragédias são celebradas alguns tantos te querem triste, derrotado levante, sorria para o espelho, para a vida o teu sor...
-
Hoje acordei sem vontades E parecia o que não sou E quanto mais eu me esforçava Estava só O meu transtorno é bipolar Quando eu...
-
"Esforça-se mais quem tem menos" "O espelho só reflete o que de mim exibo" "A cada descoberta do espírito, o coraç...
-
A musicalidade e discrição da língua me impressionam às vezes. De um lado temos toda a hostilidade dos homens que insistem em te explicar ...