19 de jan. de 2012

Tiros

Uma leve dor surgindo,  velada em segredo dentro da garganta. É como uma sede que só respeita aos comandos cerebrais. Pena que minha cabeça ultimamente não dê conta de tantas coisas. Saudosismo a parte, sabe-se que o fruto é conseqüência do processo. Instrumentalizá-lo é o que se tem feito com quaisquer sistemas matemáticos. A sociedade me vem à pele como um óvni. Medo assim não sentia faz tempo.
Paralelo, estava a vontade de dormir. A cabeça  aflorara-se em considerações constantes, porém absurdas. Não distinguir o corpo do espírito quando a dor lhes compete, acaba se tornando tarefa árdua frente às limitações daquele cérebro outrora citado.
Durmo ou assumo as loucuras.
Gritar e deixar fluir o sangue oprimido no pescoço ou tornar-me cego e substituir uma vontade de permanência numa dispersão desmedida de desejos? Eis o dilema cotidiano.
Disseram-me que viver aliado ao mistério seria o melhor. De fato, esse sim fascina, pois na vaga lembrança se escondem as fantasias. Desde sempre aprendi a crer. Fé é um empreendimento que vai se amortizando pelo peso do sofrimento que, não mais como um mistério, vai se manifestando simples como fenômeno.
 As histórias vão tomando formas. O sono vai se justificando à medida que as lembranças vão se apagando. Ver o mundo é ver-se a si mesmo.


Uma sequência de tiros vagueia o imaginário. Sons abruptos absorvem o corpo daquele jovem na rua. Da janela vejo só o silêncio e uma sombra. A morte, à sua maneira clássica, traz de volta as lembranças. Não há vestígios do algoz. O que teria motivado aquela alma no instante em que a minha vagava pelo quarto escuro? Sons de socorro paralisam a madrugada. Instintivamente, meu coração não soube medir a importância do outro.


Minhas loucuras se mesclam aos meus princípios. Nesse instante se chocam. O elo perde-se no cenário que envolve as almas.
A quem devo o amor primeiro? Dispensarei no rio da sociedade minha glória ou derrota?
Em doses todos choram. E resistem em assumir o sentimento.
Em sortes todos arriscam. E admitem não vencer sempre.
Em partes todos amam. E estabelecem vínculos.
Em mares todos sonham. E atravessam horizontes.


De Frente pro crime
João Bosco

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