27 de jun. de 2012

Incontundência

Estou em busca de repouso
O céu me trará algum abrigo
Dependurado está o meu riso
Escarnecido meu desejo
Já não existem mais barreiras
Que desapontem meu destino
Enquanto espero, o tempo passa
A direção está sem guia
O meu sagrado pede ajuda
O meu profano se aflora
A boca não encontra o verbo
Se fecham os olhos no perigo
Pra encarar melhor a fome
A noite fica sem luar
O dia achega-se à sombra
A pele não se reconstrói
A mão esconde-se no bolso
O coração resiste à culpa
A consciência à conduta
Esvoaçada está a mente
Sem o desvelo que a alente
Sem o apreço que a encante

26 de jun. de 2012

Eu

Vou juntar as duas pontas do laço
Fumar até não ficar um sequer no maço
Olhar aquém de mim e dar-me um abraço
Não sucumbir, nem desistir do passo

Que me tire desse momento mau

Que me eleve pra perto do céu
Que me envolva num manto de paz
E ao menos, possa eu retratar-me 

Eu e meu umbigo

Eu e minha miséria
Eu e minha cabeça
Eu e minha história
Eu e o meu desejo
Eu e minha memória
Eu e minha cachaça
Eu e minha droga
Eu

Tarde amarela

Chegou
E tentou acender a fagulha do amor
Chorou
Meio desesperado pediu pra eu voltar
Voltei
E a maré do encontro então se agitou
Cortou
Bem na beira da praia e o silencio rompeu
De dor
E já sei bem de cor o que te fez mentir
Assim
E na tarde amarela o suor respingou
No chão
Só pra contrariar minha indecisão
Fumei
Devagar um cigarro, parei pra pensar
Pensei
Não havia razões que fizessem brotar
A flor
Nem mesmo coração que pudesse bater
Então
A fagulha do amor desistiu de acender
Rompeu
No momento oportuno o nó desatou

25 de jun. de 2012

A máquina do tempo

Ah... Se o agora me fosse o outrora!

Iria sem demora
Voltar ao momento presente
Pra mostrar, embora o crime,
Que no peito se esconde a memória

Se nela eu pudesse reescrever, qual livro da vida
Rechaçaria como nunca o fizera
Escolheria outras verdades
Semearia além desses campos inférteis

Abandonaria o próprio umbigo
E romperia os nós ao encontro de laços
E na estupidez desmerecida, a cada enclaustro de injustiça
Deus desistiria do próprio céu pra atender o homem fraco
Pois a lembrança apelaria ao eterno no momento oportuno 

Ah... Se o agora me fosse o outrora!

Todo o perdão seria ínfimo
E toda mágoa desistiria de atormentar a alma
Toda mazela seria cauterizada 
Sarada a ferida que emerge na pele cansada do sol 
Canções de um exílio se espalhariam aos ouvidos feito fumaça
Os vícios achariam seu lugar certo no tempo
As vontades entenderiam a demanda da fome
Ao invés da pressa, os pés achariam passos calmos
E a morte escolheria viver, mesmo que o tempo
Encolhesse o desejo, encurtasse a palavra

Ah... Se o agora me fosse o outrora!





Junhos

Quero alguém que me faça sorrir
Mesmo quando o sol me seja ameno
A lua fique em segredo
E as nuvens se escondam na claridade

Olhos sempre a postos para o pranto
E no engano das carpideiras
Eu me assombre com a vida pra entender a morte

E o que me importa?
Se a fome corrói o estômago
E um pedaço de pão me assole a sorte
Me dê passos, antes que eu desista de andar

Mais perto me encontro
Pois, tão longe está meu pensamento
Na busca irreal de ilusões

E no espanto meu mundo se transforma
Evolui à medida de minhas asserções
Mesmo que o dia me seja curto e não dê tempo
Ainda que a noite se prolongue
E o sonho fique comprido

Tão perto da loucura
Do instante
Da impressão do toque
Da troca
Da palavra
Que no barulho se cala

Em busca do momento certo
Da implosão que expele
Vários de mim em um só

E meu tom geminiano
Se mescla ao teu
Pra formar gratuidade e assistência
Alimentar-se de água e do fogo
De vento e poeira

Na posição privilegiada do espírito
Fica uma porção de mim esperando
E outra, me divertindo de quem me olha com desdém

Amar no descaso alheio é minha missão
Ceder, me poupar de versos
É minha certeza

Expor as mazelas ao desconhecido
Ao menos, ser invasivo
Indiscreto
Impreciso
São outras parcelas de um todo
Que mesmo corrompido
Corrobora com a velha decisão do ser









23 de jun. de 2012

Escolha primeira

Estou me libertando aos poucos das amarras da moral.
Dela preciso?
Quem mata a fome do homem iníquo?
O que me faz amar desmedidamente, senão a motivação do íntimo?
Miram-me com cautela e distinção. Juízos em ritmos descompassados.
Emoções sucumbem meus pés. Mãos. Braços e abraços.
Quero um momento de satisfação na medida das intenções verdadeiras.
Amigos não me matam a fome. E o espírito como fumaça, sai de meus pensamentos em busca de um lugar pra se aquietar. 
A escolha primeira me foi tolida. E ao mundo fui colocado. Aleatoriamente? Qual o sentido primeiro das sensações primeiras?

22 de jun. de 2012

Necessidade

Olhos se abrem ao gesto
Gestos se dão pelo toque
Toques se acham no atrito
Atritos se chocam na pele
Peles encomendam o ato
Atos se fazem no desejo
Desejos confundem o instinto
Instintos procuram sentido
Sentidos enganam o destino
Destinos se cruzam na estrada
Estradas me levam ao horizonte
Horizontes refazem o começo
Começos me conduzem ao ocaso
Ocasos dormem na manhã
Manhãs insinuam a vida
Vidas distraem a relação
Relações se perfazem no encontro
Encontros me levam ao outro
Outros são mais que eu sozinho







21 de jun. de 2012

Mania

Mania de dar-se além do preço
Envolto ao desvelo

Não sabe esconder-se aquém do beijo
Prefere mostrar-se

Acaba encontrando-se no erro
E não se arrepende

Quando já é tarde, ainda é cedo
Faz uso do instante

Espelha-se quando não reflete
Sua imagem prescinde

Desdobra-se quando é ameaçado
Digere vontades

Por pouco arrisca-se sem medo
Viola segredos

No gesto esconde-se na falta
Lhe sobra a mania




20 de jun. de 2012

Desterro

Minha atenção está a postos
As mãos suplicam pelo aperto
De outras mãos, de outros braços
Outra canção, outros desejos

A boca espera atenção
Os olhos não reparam o erro
Nem mesmo o crime ou remissão
Serão mais fortes que o desterro

E lá de baixo ouço gritos
Ouço gemidos de aflição
Verá o cego além do atrito
Além do vício ou coerção

Cada momento é passageiro
E o eterno ao mundo veio
E passeando bem ligeiro
A fé ao corpo adveio

À poesia - o louco

Para o grito - a rua
À calçada - os pés
Para a noite - a lua
Ao recorte - viés

Contra o susto - a calma
Ao sucesso - o bis
No final - as palmas
Sem querer - eu quis

Te amando - o muito
Desejando - o mais
Esperando - o fruto
Bem à frente - atrás

Ao azar - o lucro
Para o lucro - ainda
Mais ainda - o pouco
Pouco a pouco - finda

Indeciso - espero
Na espera - vejo
Desejo - o desejo
Boca-a-boca - o beijo

Examino - a vida
Vivo - atuando
Para o ato - a lida
Lida, ledo - o engano

À poesia - o louco
Na loucura - entenda
Julgamento -  torto
Ao juízo - a venda

Me poupando - a poda
À roseira - o espinho
Espinhaço - a mola
Amoleço - ao vinho

Embriago - o certo
À certeza - o plano
Quando minto - acerto
Quando acerto - engano

Vamos - e ficamos
Restamos - sozinhos
Só a sós - amamos
Ao amor - caminhos




19 de jun. de 2012

Metade

Tua
Verdade nua
Cortou ao meio
Todo o meu desejo
Requereu sua parte
Pareceu arte
E a semente germinou 
Em cheio
Antes da verdade
Da ambição
Em meus rincões
Fui percorrendo
Além do entendimento
Aquém do coração
E de loucura 
Contra a cultura
Ou possessão
Fui entendendo
Cogitei teus planos
Assumi teus rios
Embarcações
E desvarios
E disse ao mundo
Todo em meu silêncio
Que a chama é concisa
Antes da dor
Além do chão
Já o desejo
Precisa do outro
Pra se completar
Se dividir
Se transformar
É que o mundo
Acaba 
E recomeça
Quando reconstruo
N'outro a decisão
De não deixar sozinho
Ao abandono
A outra metade
Que no peito evade
Justo o coração

Crivos inversos

Sob meus versosCrivos inversos
Agora quem me dirá mentiras
Quando a verdade me engana
Invento minhas teses
E ao meio está o inteiro
Crio umas certezas
E as dúvidas me ensinam
Divido o pão
Assola-se a fome
Fumo meus cigarros
E as mazelas se escondem
No abraço me aqueço
E o mundo se resfria
Em minhas expectativas
No passado me distraio
Desejo o teu desejo
E no desejo me retraio
À cada inibição
O umbigo se destaca
Emerjo à essência
Na existência sou eu mesmo
A fé requer mistério
Quando deus é revelado
O homem ortodoxo
Se confunde com o falso
O agora é meu destino
E o porvir, deixei de lado

17 de jun. de 2012

Modesta escolha

Quando a boca resolveu calar
Escondido estava o gesto, no olhar
Quis ficar sozinho
Me arrependi
E em tua caridade
Entendi

Pela tarde amarga
Meus ais resistiam ao riso
A alegria beirava o claustro
As certezas desmoronavam
Bem pertinho do abismo
Recuei

Pra não ser injusto
Com as emoções
Nem com o outro
Que ao lado
Resistiu

Não esperei anoitecer
E violei o meu silêncio
Irrompi

Deus me foi amigo
E me defendeu
Quanto ao outro
Mais que amigo
Entendeu

Que o dia traz o peso 
De um ontem sem desejo
Sem memória
Sem o beijo
Sem porvir

E o vir-a-ser
Tornou-se vida

Me perdoe 
E me ame
Sem reservas
Sem reclames
Sem fugir

E que o semblante da manhã
Se refaça com o riso
E na tarde eu desista
De ser o que não se espera

Na modesta escolha
Que eu também ame
Sem reservas
Sem reclames
Sem fugir





Doce insólito

Quando a força agoniza
Respostas - ledo engano
Recorro ao sobre-humano
Tento a sorte que ameniza

Levanta-te qual sol
Brilhe, qual lua
Ande, quer fraco
Chore, quer triste

E o meu pensamento desbrava
A amargura de algum materialismo
Que preso, ao corpo
À natureza da razão
Se cansou das respostas

Vou matando meus leões
Que juraram um dia, matar-me
Peço ao pai em oração
Fração de sua divindade
Pra que eu não sucumba
Aos meus próprios tormentos

Crio deuses
Só pra não ficar confundido
Ou alheio às próprias crenças

Crio mitos
De mim mesmo
E deixo claro que subsisto

Na fecundidade de meus versos
Nascem filhos do meu mundo
Da graça natural
De minhas luxúrias
De cada pedaço de pão
Deixado à mesa

E os sinais me são vazios
As visões não me dizem nada

O corpo quer um jeito diferente
De prazer
Que o complete
Como o emaranhado de meus versos
Dão sentido à minha demência

Visto a roupa ainda suja
Do meu próprio sangue

Martirizo minha falta
Meu desejo
Meu engano
Pra fazer feliz quem não conheço
Dou além do que tenho

Quero abraçar-me
Mas, não posso
Dizer a mim mesmo
Te amo
E não remediar o remorso
Que me acompanha
Desde o dia
Que por sorte ou ironia
Ao mundo apareci

Hoje
No meu mundo
Caio nas armadilhas
Que criei

Disfarço
Invento outra estória

Quero a sonoridade
Conquistar a liberdade
Junto aos meus ouvidos

A boca
precisa de um tempo ainda maior
Para desferir contra o corpo
As verdades da alma

A alma
Só quer sossegar-se
Ainda que o outro
Lhe seja amargo
Ou doce,
Insólito

16 de jun. de 2012

Encontro de peles

Arrisco em pensar que me queres
Enquanto venero
Desejo teu corpo

Atrás de um homem, mulheres
Sei que tu me esperas
Na dor ou na falta

Não tenho pudor na escrita
Nem asco, nem finta
De ser um engano

Teu corpo no vulto me encanta
Diz-me, quanto custa
Deitar-me ao teu lado

Num copo de gim bem amargo
Eu trago um cigarro
Me satisfazendo

A mão se infiltra abaixo
Ao umbigo, em afagos,
Lambidas na orelha

Tua boca um sabor de pecado
Meio adocicado
Tua língua um deleite

Percorro o pescoço
Desbravo teu colo
Invado tua nuca

Pobreza de versos
Riqueza de gestos
Encontro de peles

14 de jun. de 2012

Indigência

Um pingo de mel
Adoça meu desgosto
Minhas avarias achegaram-se bem perto
E não sei, se desatino ou me esvaio 
Se me permito ao encontro
Ou mesmo, deixo-me guiar pelo sonho
Ora alegre, ora medonho

Arrisco em lamber-lhe a pele

Emerjo do esgoto
Quer sábio ou louco
Pra descobrir o que de fato me aflige
Nem sei de cor o meu desígnio
Em quantas vias se ramifica meu caminho
Ou quantas partes de mim compõem o todo

Divido a minha parcela de afeto
Com quem queira 
Desvirginado está o gesto
De quem só viu o próprio umbigo
E agitado está o feto
Da mulher abandonada

Minha demência, te dedico
Economia de versos
Isonomia de palavras

Me doo até onde eu possa ver
E no escuro eu me perco

Mereço a sorte do roedor
Quando no esgoto, me escondo

De lá, ouço os passos na calçada
Vejo o céu que descende
Até as profundezas da cabeça
Que se rebate no asfalto morno
Pra não culpar o inocente

E na minha indigência 
Vou entendendo o rato
Pra compreender o homem








13 de jun. de 2012

Loucura

Os meus sentidos fogem da cabeça
Nem sequer medicamento
Ou cigarro
Vão sossegar o entendimento
Que obstinadamente
Resolveu sair
Dar uma volta ao lado
Do outro lado
Onde nem mesmo deus ou o diabo
Resistirão ao certo, ao desacato
Ao desatino, sobre-humano
Ao desabafo

E na loucura incerta
Encontro pela terra
Meus pedaços
E ao subir a serra
Estampo em meus olhos
A demência
Implode para fora
Enquanto a memória
Perde o rumo
E mesmo quando aflora
Esqueço no espírito
A fraqueza
Para pular o muro
Me sentir seguro
Duvido da certeza









Abraço

No regaço do meu sonho
Estrelado está o céu
Deixo-me, assim disponho,
Entregar-me sob o véu

Corrompido, violado até a aurora
No silêncio incomum de teu abraço
Como o nó que é desfeito ante o laço
Sem censura, desmesura, sem demora

Que a paz deixada à beira de um lago
Traduza em harmonia e perfeição
O caminho, feito veia ao coração
Quero o som de sua água tão inerte
E no sonho, encontrar-me com os versos
Não me cale à frente, à beira da aflição
E tão puro, o coração se compadece

Que o abraço de quem me deseja o bem
Possa deus multiplicar-lhe os seus dias
Já aquele, ao contrário da canção,
Lhe comova, atinja em cheio o coração
E traduza em seu abraço, a alegria







Hora sexta

Os retalhos vou juntando
Pra compor a melodia
Meus pedaços, meus enganos
Vão tecendo a rouparia

Uma noite de descanso
Para o pai custou-lhe a culpa
A serpente e seu plano
Enganar é sua conduta

Houve um tempo sobre-humano
Em que o mal não existia
Quer de peles, quer de pano
O corpo não se vestia

Pode-se mudar o rumo
Será erro enganar-se?
Se não sei compor juízos
Deus cumpriu a sua parte?

Estará a liberdade
Nas mãos do onisciente?
Quem decidirá no jogo
Será d'ele o encargo
Quando sei que vou pro ralo
Onde não cresce a semente?
Que invade o pensamento
Mágoa, dor, esquecimento
Bem à cruz ou mal à besta

Será o pai, será o filho
Quem badalará o sino
Ao raiar da hora sexta?









12 de jun. de 2012

Me estendo, me ajunto, me comprimo

Te desejo à medida dos meus sonhos
Numa foto teu sorriso se destaca
Na memória guardo as tuas entregas
Pelos corpos estão marcas de um tempo

Em teus campos vou plantando minhas palavras
E adoço o amargo dia frio
Não entendo para não ser confundido
Nem me dou além do que tu necessitas

Eu me escondo em teus olhos e cabelos
Resistindo à minha vontade, eu me prostro 
E violo em instantes o abraço
Pra na pele encontrarem-se os suores

Me encurvo ante meus próprios instintos
E ancoro a tua nau em meus anseios
Não te deixo sequer quando estou sozinho
Me abrigo na soleira de teus muros

Sou pequeno para ver tua grandeza
Me estendo, me ajunto, me comprimo
Tem alguns que sem a menor importância
Julgam mal o que guardamos lá no íntimo




10 de jun. de 2012

Feto

Quando no feto eu esperava
Qual manto rasgado
Nu, indesejado
Ora calma, ora aflição

Sem poder optar,
A decisão já se cabia
E por uma breve ironia
O perdão chegou remoto

No meu peito batia
às custas da fome de alma
a vontade encantada
(...)

Traí o destino

Compuseram-me aos sinos
Da igreja do centro

O mundo me foi hostil
À cruz me conduziu
Até o ponto insensato do espírito
Donde se escondiam as verdades primeiras
Àquelas ocultas no feto esquecido
Amargo, indigesto

Imagens do medo primordial
Que inaugurou a existência
E que me conduzem rumo ao eterno
Ainda que efêmero, eu me preste
Ao mundo ilusório do sofrimento

Da dor do parto
Do fim que justifica o meio
Ou do meio que justifica o fim




9 de jun. de 2012

Aguardo calado

Tem um pedaço de mim
Que meio desatinado, confuso e cansado
Às loucuras, desama

Não sei se por desatino
Ou um turvo destino
Escolher, não me cabe

Distingo para além do verso
Mas triste, confesso
Não tenho tal gana

Quantos ainda esperam
No forte, no belo
Eu só tenho a cama

E sem saber do juízo
Quer fraco, amigo
Não me olham na cara

Se franco em qualquer franqueza
Amor em qualquer pobreza
Sou rico em afagos

Nem que me digam adeus
Veja, eu tenho os meus
Que me dão o necessário

Não venhas desmerecer
O que tanto eu prezo
No que eu acredito

Mas eu precisei da queda
Agora eu nem sei direito
Aguardo calado

7 de jun. de 2012

Marcas

Marcas em meu cotovelo
No pescoço e cabelo
Mostram ao tempo que um tempo
Pra entender, é necessário

Discernir com liberdade
Me poupar e sofrer menos
Encarar a realidade
Posicionar-se

Descartar a maldade
Contra toda vontade
Extrair o que tem dentro
Escolher o que me cabe

Ser do pão o fermento
E no justo momento
Em que o pensamento
Se cala,
Possa deus vir à mente
Transformar água em vinho
Vinho em sangue
Sangue em gente

E, novamente,
No desejo ou cobiça
Possa na reconquista
Retornar à cabeça
O mundo do sonho




6 de jun. de 2012

deus-menino

Sentados no templo - ouvidos à escuta
Burguês ou mendigo, quaisquer sejam os credos
Adorar deus-menino, na fé e na luta
Há quem o condene, cravando-lhe pregos


Quando o infinito infiltrou-se no tempo
Com a incubência - trazer uma verdade
Ademais tão certeira, infiltrava-se dentro
Das criaturas remidas no sangue e na carne


"Quem é?"

Quem é que espera e não duvida,
Que violentamente é incapaz de maltratar,
E pacificamente, não resiste à injustiça?

Quantos braços se levantarão ainda
Ante a fome, ao desgosto, à crendice

Quantas vozes me encantarão ainda
E crianças cultivarão, esperançosas, a velhice?

Os escombros me fizeram desistir do recomeço
Tanto sangue é perdido, tanta mágoa dispensada

Tem rumores de tristeza espalhados no destino
Com pitadas de fomento de realizar o sonho

Me foi pouco o veneno, me foi rara a saudade
A cada passo eu adio, a cada passo eu desconheço

Sou contra a dor, mas vejo guerra
Contra o mal. E o bem, quem é?

Quem espera e não duvida?
Quem é?





3 de jun. de 2012

Pés à cabeça

O que entre nós predomina
Se me arrasto a teus pés
Te lambo o calcanhar
Mordo justo o tendão

Me perdoe,
Por manter tal conduta
Ao pé, o sapato cabia
E eu, como qualquer vadia
Entregava-me aos dedos, qual puta

Minha lógica, pouco comum
Improvável ao homem direito
Ter nos pés o calor do desejo
E nos dedos, fagulhas de afeto
Cavidades, plantas, forma, cheiro
O tesão, qual espera de um feto

Nos pés se escondem alguns segredos
Que talvez tu desconheças
Quando o outro enfim se aproxima
A imagem se inverte lá de cima:

- Cabeça aos pés?
[não]
- Pés à cabeça!

2 de jun. de 2012

Embaçado

Mania de animar seres abstratos
Dormir quando é tempo de estar só
Correr para enganar o dia
Chorar e se esconder na noite

Sem fantasia e com uma trouxa de utensílios pra acondicionar dentro do armário
E a alma resiste em recuperar o brilho interno
Desistiu da gana de participar do mundo do outro
De perceber as cores além do próprio fosco junto à mente

Dezenas de tons azuis por todos os lados
Vermelhos e amarelos alcançam a vista decadente
E quando o cinza se cansa de permear em meus óculos embaçados 
É que a imagem real dos sonhos vem à tona

Fantasmas deixam de iludir-me quando eu penso
A pele recupera sua cor
O filho reconhece os pais na velhice
Na tristeza ou na dor
Os esposos se reconciliam
Os cegos recuperam a visão
E veem um novo mundo no outro que se estende ao abraço


Outros versos

Disponibilidade - viril
A luz do céu bem forte - anil
Sorrir do azar ou sorte - brasil
Caminho se esvaindo - funil

Amar depois da morte - além
Fazer tua vontade - convém
Contra o próprio desejo - o bem
Livrai de todos males - amém

Para matar a fome - o pão
E se manifestar - expressão
Ao corpo dividido - a paixão
Ao pensamento turvo - união

Vamos regar de novo - a flor
Sorrir de todo o povo - cantar
E dispensar sem nojo - sabor
Não desistir do outro - tentar

Queria ser um palco - ator
Manter equilibrado - o astral
Sem medo da poesia - compor
Não desistir do verso - final





protesto

  num tempo onde as tragédias são celebradas alguns tantos te querem triste, derrotado levante, sorria para o espelho, para a vida o teu sor...